Analfabetismo ambiental e oportunismo político

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960 »

jornalista_aricunha@outlook.com
com Circe Cunha e MAMFIL

Com a redução progressiva dos níveis de água nos reservatórios que abastecem o Distrito Federal, o que vai aflorando à vista de todos é, além de velhos troncos de árvores retorcidas, a história de uma sucessão de crimes políticos e ambientais que resultaram numa gravíssima e crescente crise hídrica que ameaça inviabilizar o próprio futuro de Brasília.

“Quando a maré baixa é que descobrimos quem estava nadando nu”. A frase do megainvestidor americano Warren Buffett serve perfeitamente, como um traje de mergulhador, para o grave problema da escassez de água no DF.

Os níveis de água baixaram pondo a descoberto agora a aliança perversa que, por décadas, foi estabelecida entre o oportunismo político, a ganância empresarial, o analfabetismo ambiental e o descaso da própria população. Culpar o aquecimento global, os caprichos dos regimes de chuvas, o El Niño e outros fenômenos climáticos é tudo que podem fazer e querem os sujeitos desse crime anunciado para se livrarem do veredito severo das novas gerações e de todos aqueles que têm consciência da importância da preservação dos biomas para a vida humana.

A partir da década de 1980, com a emancipação política do Distrito Federal, tem início um acelerado processo de devastação e degradação do cerrado, para abrir caminho à ocupação urbana desordenada comandada por governantes e políticos locais em conluio com desembargadores, juízes e empreiteiros espertalhões.

Durante décadas, essa turma enxergou na invasão de terras públicas e particulares, mesmo aquelas protegidas por lei, como Área de Proteção Ambiental (APA), a moeda política e econômica ideal que permitiria a perpetuação do modelo: um lote, um voto.

Sob a batuta desses dirigentes inescrupulosos, governadores e deputados distritais criavam novos assentamentos e incentivavam a invasão de outros. Dando cobertura legal a essas autoridades, juízes e desembargadores concediam enxurradas de liminares, impedindo fiscalização e derrubadas de invasões.

No apoio logístico, a CEB e a Caesb vinham logo atrás, ligando, com presteza incomum, luz e água nos assentamentos irregulares, para dar a ocupação como fato consumado. Documentos de IPTU eram providenciados às pressas para dar alguma legalidade ao crime.

Grileiros e empreiteiros faziam a festa e a fortuna com a farra das terras. O que resultou desses anos loucos e irresponsáveis muitos, hoje, puderam perceber e sentir na pele. O assoreamento, a poluição e o soterramento de nascentes, o desmatamento de matas ciliares, a impermeabilização dos solos e outros danos irreparáveis ao meio ambiente foram o que ficou de herança da irresponsabilidade política que, por incrível que pareça, ainda persiste de modo velado e com a mesma força destruidora.

A frase que foi pronunciada

“Acreditar em algo e não o viver é desonesto.”

Mahatma Gandhi

Interação

» Por falar em água, a Caesb precisa abrir uma linha telefônica e configurar o WhatsApp para a população informar sobre vazamentos.

Voo

» Pela terceira vez, a Latan faz pouso de emergência no Aeroporto Internacional de Brasília. Na semana passada havia fumaça no avião.

Talento

» Moema Craveiro Campos fez aniversário. Pianista e sanfoneira de dedos ágeis e graça que só ela tem. Feliz Ano Novo!

Menos imposto

» Atenção! Se você tem 60 anos ou mais será isento do IPTU. A lei diz o seguinte: O direito é garantido pela Lei Distrital 5638/2016, que modificou o inciso VII do artigo 5º da Lei Distrital 4727/2011, isentando do IPTU, até 31 de dezembro de 2019, “o imóvel com até 120 metros quadrados de área construída cujo titular, maior de 60 anos, seja aposentado ou pensionista, receba até dois salários mínimos mensais, utilize o imóvel como sua residência e de sua família e não seja possuidor de outro imóvel”.

Difícil

» Voltaram as invasões de residências na capital. Sem cerimônia, os bandidos pulam cercas, quebram vidros, amarram as pessoas, ameaçam e levam tudo o que foi conquistado pelo trabalho.

Orgulho

» Jeanne Maz, neuropediatra, comemora o doutorado de Chael Luigi de Souza Mazza, seu primogênito, que defendeu a tese intitulada “Inovação, desempenho e coprodução no setor financeiro”, estudo de companhias brasileiras de mercado aberto.

História de Brasília

Há, também, o caso de um senhor goiano, que, com um papel na mão, disse a um amigo nosso que entregaria ao senador José Feliciano aquele papel e que ali estavam todos os cargos da prefeitura. Terminou dizendo isto: o cargo do Ari Cunha, é uma questão de honra para o PSD de Goiás. (Publicado em 23/9/1961)

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