Acerca das cercas

Publicado em ÍNTEGRA

 

Desde 1960

colunadoaricunha@gmail.com

com Circe Cunha  e Mamfil

 

Devido às consequências das gigantescas manifestações populares, que passaram a ocorrer por todo o país, inclusive em Brasília, contra e a favor de políticos envolvidos nos mega escândalos da Operação Lava-Jato e congêneres, as principais lideranças nacionais, principalmente aquelas cujos nomes aparecem nessas investigações, passaram a adotar um modelo bem mais cauteloso em suas  relações com o público em geral. De lá para cá, os casos de xingamentos e mesmo de agressões físicas sofridos por políticos em público passaram a ocorrer com constância preocupante.

A situação chegou a um tal ponto que, hoje, praticamente, não se encontra mais nenhum deles andando displicentemente em meio à multidão, quer em aeroportos, restaurantes, feiras e mesmo em passeatas políticas. Com isso, aumentaram também as medidas de segurança visando proteger, além da pessoa, também o local de trabalho e despacho dessas autoridades. Criou-se, então, o mais esquizofrênico dos paradoxos, em que os representantes diretos da população passaram a evitar, ao máximo, aparecer e se expor em meio ao povão.

Óbvio que a situação, extremamente anormal, gerou reflexos em outras áreas. Passou-se a buscar, além da proteção contra a massa raivosa, a proteção dos prédios e monumentos públicos. Indiferentes ao fato de a capital ser tombada pela Unesco, como patrimônio histórico artístico mundial, e ao que diz expressamente o art. 18, do Decreto nº 25, de novembro de 1937 —“Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade” —, ergueram-se cercas e alambrados metálicos, em caráter definitivo, em torno dos principais palácios e monumentos da capital, criando cidadelas fortificadas contra o assédio popular.

Nem mesmo a Recomendação nº 38, do Ministério Público Federal, no fim de agosto último, foi acatada: permanece o cercamento dos palácios. A única exceção foi o Palácio do Buriti, que mandou retirar o alambrado em volta. Lembra, contudo, o Ministério Público, que “as cercas metálicas poderão ser colocadas em casos excepcionais e temporários que comprometam a segurança das pessoas e o patrimônio público, porém removidas tão logo cessar a excepcionalidade.

Cabe aos órgãos de segurança dar proteção às autoridades e aos monumentos. O que não pode, e os brasilienses e os turistas nacionais e estrangeiros não toleram, é que os monumentos que ganharam admiração em todo o mundo permaneçam apartados de todos, como algo intangível, postos nessa condição por conta do mau comportamento de parcela dos representantes do povo.

 

A frase que não foi pronunciada

“O que as cercas protegem é a indiferença com a população.”

Transeunte na Praça dos Três Poderes

 

Sem alarde

» Censura às redes sociais foi vetada por Temer na reforma política. A emenda não quer dizer que vale tudo. Os tribunais estão aí para isso.

 

Ainda

» Ibram e Sema até agora nada fizeram diante da situação insalubre que cerca o Hospital da Criança. Crianças imunossupressoras são reféns do descaso. O Centro de Controle de Zoonose é um lugar que também tem sua importância. Mas, ao que parece, acostumaram-se com a má gestão do lixo e acham que tudo por ali é normal. Só o Ministério Público para resolver a questão. O que não pode é um matadouro ficar ao lado de crianças com a saúde fragilizada.

 

Leitor

» Refis dos crimes eleitorais. Quem usou caixa 2 pode parcelar a multa pelo ilícito em até 60 vezes. Já os partidos e empresas devem pagar o dobro do valor do caixa 2 sem direito a parcelamento. Está tudo descrito na PL 8612/2017. Além disso, os partidos que abusaram do caixa 2 estão livres para receber verbas para as próximas eleições. Será que o Senado vai frear esse absurdo? Quem pergunta é Fernando Gomide.

 

História de Brasília

A principal preocupação do sr. Oscar Pedroso Horta, na TV, em S. Paulo, foi falar mal de Brasília, chamando-a de insípida, horrível e tenebrosa. E é mesmo. Não é para todo o mundo, mas para muitos. O homem é produto do meio. (Publicado em 6/10/1961)

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