Um fantasma na ópera

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha com MAMFIL

Cartas, sobretudo aquelas escritas de próprio punho, possuem um poder revelador tão fascinante que, analisando o desenho ou um traço de uma simples letra, é possível acessar os mais recônditos labirintos da alma do autor. Mais do que revelar o interior de quem escreve, uma carta, quando manuscrita, se converte num documento fidedigno, pois cada linha riscada na folha branca é como uma própria assinatura, lavrada e garantida.

Nesse sentido, a carta de dona Dilma aos senadores e à nação, finalmente tornada pública na terça-feira, como missiva, soa totalmente falsa. Nela, nem as pessoas que desfrutam do convívio íntimo da presidente reconheceriam nos escritos quem foi o autor de fato. Para muitos, o texto é inteiramente de autoria de seu advogado de defesa, José Eduardo Cardoso, sendo que a presidente, nesse caso se limitou a ler o que estava à sua frente.

Fosse esse um documento manuscrito, apresentando o desenho personalizado de sua letra, mesmo com erros de português e gramática, a carta exalaria aquele ar de autenticidade. Mais uma vez a presidente abandona o caminho reto da verdade para se embrenhar pela via larga da falácia, levando ao destinatário para uma espécie de areia movediça, onde os fatos e as versões afundam no mesmo terreno. Mais uma vez dona Dilma desperdiça a oportunidade de usar a sinceridade. Essa é a derradeira chance.

Durante os longos anos em que ocupou os mais destacados cargos públicos, em nenhum momento dona Dilma se permitiu mostrar quem realmente é. Cargos públicos são para pessoas que se apresentam cristalinas, sem medo de mostrar o que são, o que pensan e ao que vieram. Entre as coisas públicas, numa república de fato, o que se deveria encontrar, além da total transparência das pessoas ungidas pelos cargos, o respeito irrestrito às leis.

De toda forma, a carta ficará com o registro lido pela alegada autora para a posteridade e, no futuro, será lida e esmiuçada por historiadores que, à semelhança de arqueólogos e paleontólogos, buscarão entender quem foi realmente o personagem por trás da carta, quais foram suas razões e angústias. Pelo que se tem até agora, não dá para saber ao certo. Restará aos cidadãos buscar, por conta própria, o fantasma escritor por trás das linhas.

Discurso que foi pronunciado:

“Ao longo da campanha, anunciei medidas que vão ser muito importantes para que a sociedade brasileira enfrente a corrupção e acabe com a impunidade.”

Discurso de dona Dilma

Criatividade no ar

Jorge Antunes leva para a UnB, na terça-feira, a ópera de rua Olympia ou Sujadevez, de sua autoria. A apresentação está marcada para as 12h30, no Restaurante Universitário, na área voltada para o Minhocão. Coro, solos e orquestra.

Imbróglio

Recebemos da Mesa Diretora da CLDF o seguinte esclarecimento: “A Mesa Diretora da Câmara Legislativa do Distrito Federal esclarece que aprovou Projeto de Emenda Aditiva, proposto pela própria deputada Liliane Roriz, que destina recursos para a Saúde. E que os áudios divulgados, hoje, pela imprensa estão evidentemente editados e as conversas estão fora de contexto. A Mesa ainda esclarece que os deputados cumpriram com seu dever de legislar, que rejeita qualquer acusação de prática de ato ilícito e que confia nas investigações para a apuração da verdade. Ademais, a deputada Liliane Roriz está sendo investigada pela Mesa Diretora da Câmara, podendo sofrer a perda do mandato em três processos pela prática de atos ilícitos e quebra de decoro parlamentar”, encerra a nota.

Desapego & necessidade

Cena comum para os frequentadores de restaurantes em Brasília são pessoas necessitadas que pedem dinheiro, vendem flores etc. O Santé 13, na 413 Norte, resolveu a situação com a campanha: “Quem tem PÕE. Quem não tem PEGA”. Com o apoio da Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh), a proposta funciona da seguinte forma: o restaurante é um ponto de troca, que recebe as doações de roupas e agasalhos em bom estado e distribui às pessoas em situação de vulnerabilidade. E o montante arrecadado ao longo de toda a semana também será distribuído, às sextas-feiras, em uma das instituições indicadas pela Secretaria. A campanha não tem data para acabar, os organizadores pretendem que a ideia estimule o desapego na população de Brasília. É só fazer sua parte.

História de Brasília

Agora, seja dada a solução que bem convier, desde que a nomeação do prefeito é de exclusiva responsabilidade do presidente da República. Mas o que o sr. João Goulart fizer de bom ou de mau para a capital todos nós saberemos conhecer. (Publicado em 13/9/1961)

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