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DESDE 1960
aricunha@dabr.com.br com Circe Cunha // circecunha.df@dabr.com.br
Governos necessitam ser substituídos dentro do salutar rodízio imposto pela democracia. Isso, obviamente, vale apenas para a equipe escolhida pelos eleitores. Com as obras e realizações de cada administração, isso não ocorre. Muito pelo contrário. O que o cidadão espera é que as obras iniciadas, sejam concluídas e que as concluídas sejam eficientes, bem construídas e que durem o máximo possível, fazendo valer cada centavo retirado do suado dinheiro do contribuinte. Obras embasadas por bons projetos e devidamente fiscalizadas pelo contratante costumam ser de qualidade e durabilidade bem superiores.
O dinheiro do contribuinte é tão sagrado que o cofre contendo esses recursos deveria ser posto num altar e venerado pelos governantes todos os dias. Infelizmente, os tribunais de contas, que deveriam ter ação mais proativa na defesa dos recursos públicos, agem, em muitos casos, tardiamente, provocados pelas repercussões de escândalos ou por denúncias publicadas na mídia. No caso do Distrito Federal, ainda causa estranheza em muitos que construções caríssimas e suspeitas, como o Estádio Mané Garrincha, tenham passado livremente pelos órgãos de fiscalização, em brancas nuvens, sem óbice algum.
Até hoje, o contribuinte brasiliense não foi devidamente informado sobre a necessidade e o preço exorbitante pago por aquele monumento ao desperdício, que, mesmo fechado ou subutilizado, consome diariamente recursos para sua manutenção. Enquanto o contribuinte aguarda explicação clara para o caso específico, outras obras e projetos também dispendiosos, anunciados com grande alarido e propaganda, seguem esquecidos ou relegados a segundo plano pelo GDF. Uma dessas obras, deixadas de lado, por mais estranho que pareça, foi erguida justamente para abrigar todo o governo local.
O Centro Administrativo do Distrito Federal, chamado Buritinga, consumiu até agora dos cofres públicos cerca de R$ 660 milhões. Oficialmente pronto e inaugurado desde 2014, permanece vazio e totalmente sem função. Pior é que mesmo fechado, necessita de recursos mensais para manutenção. De acordo com o governo, além dos móveis, ainda não foram concluídas todas as instalações elétricas, de telefonia, de acesso à internet e de ar-condicionado.
Enquanto esse fabuloso conjunto com 17 grandes edifícios — centros de convenções e de convivência, estacionamentos, lojas e outras comodidades — não entra em funcionamento, o GDF continua gastando altas somas de dinheiro com o pagamento de aluguéis de imóveis para abrigar parte da administração. Para resolver o problema, lógico, foi criado um grupo de trabalho para estudar uma solução viável para o caso. Obras paradas dão prejuízo certo. Projetos suspensos no ar, idem.
No caso do projeto do Trevo de Triagem Norte, de fundamental importância para a cidade, parado desde 2014, há a promessa do GDF de que a construção tenha continuidade tão logo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) libere os recursos da ordem de R$ 150 milhões. O Trevo de Triagem Norte é formado por um conjunto de 12 obras viárias, que inclui a construção de uma terceira pista no trecho Torto-Colorado, viadutos, novos trevos e benfeitorias que vão favorecer mais de 100 mil motoristas que passam pelo local diariamente e, não raro, enfrentam congestionamentos nas horas de pico. Também as obras da Penitenciária Federal de Brasília, destinada a abrigar 208 presos de alta periculosidade, estão paralisadas desde 2014. Embora com 62% concluídos, permanece em ponto de repouso e sem perspectiva de reinício dos trabalhos, tendo consumido perto de R$ 20 milhões do contribuinte. Existe de fato uma percepção por parte da população de que Brasília parou, literalmente.
Estudos mostram que existem atualmente pelo menos 10 obras de grande importância para a cidade que estão paradas ou em ritmo muito lento. As estimativas dão conta de que seriam necessários, ao menos, R$ 1 bilhão para reativar essas obras.
“Nós temos o dever de garantir que cada centavo que arrecadamos com a tributação seja gasto bem e sabiamente, pois é o nosso partido que é dedicado à boa economia doméstica. Proteger a carteira do cidadão e proteger os serviços públicos: essas são as duas maiores tarefas e ambas devem ser conciliadas. Como seria prazeroso gastar mais nisso, gastar mais naquilo. É claro que todos nós temos causas favoritas. Mas alguém tem que fazer as contas. Toda empresa tem que fazê-lo, toda dona de casa tem que fazê-lo, todo governo deve fazê-lo, e este irá fazê-lo ” — legado deixado ao mundo por Margaret Tatcher.
No caso de grande obras, nestes tempos bicudos, o interessante seria o governo submeter cada uma a consulta pública minuciosa, preservando e resguardando o dinheiro, já escasso, do cidadão.
A frase que foi pronunciada
“Desde a volta da democracia, são poucos os discursos que se concretizam. Nas próximas eleições ninguém mais vai aguentar tanta mentira. A saída vai ser roubar nas urnas. Acabou-se a esperança.”
Desabafo de Jorge Silva, na Esplanada
História de Brasília
Contra a vontade de muita gente, com atraso de vários dias, com a demora de várias horas, com novo sistema de governo, e exaltado delirantemente pelo povo, chegou a Brasília o presidente João Goulart. (Publicado em 6/9/1961)