O português é uma língua única. Tem dois infinitivos: o impessoal e o pessoal. O impessoal é o nome do verbo (cantar, vender, partir, pôr). Não tem sujeito e, por isso, não se flexiona. Com o pessoal, a história muda de enredo. Ele tem sujeito. E não foge à regra: concorda com o mandachuva (para eu viajar, tu viajares, ele viajar, nós viajarmos, vós viajardes, eles viajarem). Quando flexioná-lo? Em um caso. No mais, a clareza ditará a regra.
Flexão obrigatória
Rigorosamente, só é obrigatória a flexão quando o infinitivo tem sujeito próprio, diferente do sujeito da oração principal:
Esta é a última chance de o futebol e o basquete devolverem a alegria à torcida. (O sujeito da 1a oração é esta; da 2a, o futebol e o basquete.)
Saí mais cedo para irmos ao circo.
Se o infinitivo não estivesse flexionado (saí mais cedo para ir ao circo), a frase estaria correta, mas trairia a verdade. Quem vai ao circo não sou eu, mas nós.
Flexão facultativa
- Se o sujeito da oração principal e o da subordinada forem os mesmos:
Saímos mais cedo para ir ao circo. Quem saiu mais cedo? Nós. Quem vai ao circo? Nós (quando o sujeito da segunda oração não está expresso, significa que é o mesmo da primeira). Fechamos (nós) a janela para não sentir (nós) frio. (Se você faz questão de reforçar o sujeito, dê passagem à flexão: Saímos mais cedo para irmos ao circo. Fechamos a janela para não sentirmos frio.)
Exceção: Nem todos são iguais perante as regras. Alguns são mais iguais. No infinitivo, os mais iguais são os verbos mandar, fazer, deixar, ver e ouvir. Com eles, a flexão é facultativa mesmo com sujeitos diferentes. Você pode dizer: Vi os dois sair (ou saírem) da sala. Ouvi os cães latir (ou latirem). Deixai vir (ou virem) a mim as criancinhas. Fiz os alunos estudar (ou estudarem) mais. Governo manda os funcionários devolver (ou devolverem) o dinheiro.
Cuidado. Se o sujeito for um pronome átono, acabou a farra. O infinitivo só pode ficar no singular: Vi-os deixar a sala mais cedo. Ouvi-as chegar. Deixei-os sair. Pressão sindical fê-los recuar. Governo manda-os devolver dinheiro.
- Se o infinitivo for precedido de preposição: Esses são os temas a ser tratados. Há formas a ser desenvolvidas pelos expositores. Muitas de suas afirmações são abrangentes demais para ser aceitas ao pé da letra. Os presentes foram forçados a sair. Os clientes eram obrigados a esperar duas horas na fila. As forças policiais impediram os jornalistas de trabalhar. Estudamos para aprender. Os trabalhadores pararam para reivindicar melhores salários.
Flexão proibida
Se o princípio básico que rege o emprego do infinitivo é a clareza, não se deve flexioná-lo quando a presença de outros índices é capaz de marcar o sujeito do verbo, como:
- nas locuções verbais, em que a desinência do auxiliar já indica o sujeito: Conseguimos sair cedo porque adiantamos o trabalho do fim de semana.
- quando não há referência a nenhum sujeito: “Navegar é preciso, viver não é preciso´´.
- quando, precedido da preposição de, tem sentido passivo e completa adjetivos como fácil, difícil, bom: Livros bons de ser lidos (serem lidos). Trabalhos difíceis de fazer (serem feitos). Ações passíveis de contestar (serem contestadas). Joias raras de encontrar (serem encontradas).