“Por que eu?”, pergunta Temer ao saber que o Supremo tomou decisão inédita. Mandou quebrar o sigilo das contas bancárias de Sua Excelência. “Por que eu?”, questiona Lula na iminência de ver o sol nascer quadrado. “Por que eu?”, indaga a personagem da novela ao descobrir que tem câncer no rim.
Explicação
A perplexidade diante do inesperado não vem de hoje. É antiga como o suceder dos dias e das noites. Daí nasceram os mitos. Os homens não sabiam explicar certos fenômenos. Entre eles, as fases da Lua, a fúria dos mares, a mudança das estações, a sorte de alguns e o azar de outros. Para encontrar respostas, criaram divindades. Os seres sobrenaturais tinham poderes que interferiam na vida de todos.
Com o tempo, a ciência vai decifrando os mistérios. Mas as criaturas que povoam o imaginário permanecem. Elas entram no dicionário, perdem a magia e parecem uma palavra como tantas outras. Mas não são. Conhecer-lhes a história dá asas à fantasia e enriquece a cultura. Afinal, como dizem, os mitos nunca existiram, mas estão sempre acontecendo. São muitos. Vamos a dois.
Fortuna
A deusa romana era pra lá de respeitada. Dona e senhora dos seres humanos, Fortuna decidia se a criatura teria sorte ou azar ao longo da vida. Sem explicação, ela podia conceder-lhes riqueza ou condená-los à pobreza. Podia dar-lhes poder ou mantê-los na servidão. Podia abrir-lhes os caminhos ou privá-los de todos os avanços.
Por que uns e não outros? Caprichos, simples caprichos. Contra eles, toda ação resulta inútil. Daí o provérbio “fazer cara boa para má fortuna”. Em bom português: resignar-se.
Fama
Ops! O nome da divindade significa voz pública. Ela tem muitas bocas e incontáveis ouvidos. Nas longas asas, ocultam-se milhares de olhos. A deusa voadora desloca-se com rapidez. Sem discriminação, espalha por Europa, França e Bahia tanto a verdade quanto a mentira. Tudo conspira a favor da vocação de quem não segura a língua.
Ela mora num palácio de bronze sonoro, no meio do mundo, nas fronteiras da terra, do mar e do céu. Lá, ouve todas as vozes, altas ou sussurradas. As portas sempre abertas recebem e devolvem os sons ampliados. Uma multidão de moradores espalha o que ouve — boatos ou notícias verdadeiras.
Moral da história: Fama vigia o mundo inteiro. Ninguém escapa.
Resumo da opereta
Os mitos, hoje, ganham outros nomes. Mas conservam o DNA. Para explicar o inexplicável, autoridades não criam divindades. Criam narrativas. Para espalhar verdades ou mentiras, nós nos tornamos auxiliares de Fama. As mídias sociais colaboram. E como!