Não deu outra. Nas matérias sobre a transferência da embaixada americana para Jerusalém, o porquê fez a festa. Ora apareceu junto. Ora separado. Ora com acento. Ora sem o chapeuzinho. Algumas escolhas mereceram nota 10. Outras ficaram devendo. Na verdade, não há quem não hesite na hora de escrever uma forma ou outra. Muitos chutam. Mas, como a língua não é loteria, a Lei de Murphy entra em vigor. O que pode dar errado dá. Melhor não correr riscos. O caminho é dar uma estudadinha no assunto. Aprendidas as manhas da caprichosa criatura, empregar uma ou outra torna-se fácil como andar pra frente. Quer ver? Use:
Por que
1. nas perguntas: Por que a mudança da embaixada gerou confrontos? Por que judeus e palestinos não chegam a acordo?
2. nos enunciados em que é substituível por “a razão pela qual”: É bom saber por que (a razão pela qual) judeus e palestinos disputam a cidade sagrada. Explique por que (a razão pela qual) Israel e Palestina não se entendem.
Por quê
A dupla com chapéu só tem vez quando o quezinho for a última – a última mesmo – palavra da frase. Por quê? Ele é átono. No fim do enunciado, torna-se tônico. O acento lhe dá a força: A mudança da capital gerou confrontos porquê? Judeus e palestinos não chegam a acordo por quê?
Porque
Com essa cara, juntinho, sem lenço nem documento, porque é conjunção causal ou explicativa: A mudança da embaixada gerou conflito porque Jerusalém é disputada pelos dois povos. Judeus e palestinos não se entendem porque disputam o mesmo território.
Porquê
Assim, coladinho e com chapéu, o porquê torna-se substantivo. Para mudar de classe, precisa da companhia do artigo ou de pronome: Explicou o porquê do confronto. Certos porquês quebram a cabeça da gente. Esse porquê se inspira em outro porquê.
Resumo da ópera: não há por que temer os porquês. Quem entendeu a lição sabe por quê.