Antes do verbo? Depois do verbo? Xô, decoreba! Xô regras sem fim. Os bons gramáticos concordam que a colocação dos pronomes átonos no Brasil tomou rumos próprios. Reduzem-se a duas regras:
1. Não inicie o período com os pequeninos me, te, se, lhe, o, a, nos, vos, lhes, os, as.
2. Ponha o pronome sempre na frente do verbo: Dize-me com quem andas e te direi quem és. O visitante se tinha retirado antes da sobremesa. Continuamos a nos exercitar em línguas estrangeiras.
A primeira ordem — não iniciar o período com pronome átono — abrange duas situações:
1. A primeira palavra da frase não pode ser o pronome átono: Comunicou-se comigo ontem. (Não: Se comunicou comigo ontem.) Dei-lhe o recado cedo. (Não: Lhe dei o recado cedo.) Revelaram-me o segredo. (Não: Me revelaram o segredo.)
Eis a razão: o pronome átono se chama átono porque é fraquinho. Sem força pra manter-se de pé sozinho, precisa de apoio pra sustentar a oração. Outras palavras lhe servem de encosto — substantivo, pronome, numeral, advérbio. Com elas, podemos fugir da próclise. Basta usá-las como sujeito: Paulo se comunicou comigo ontem. Eu lhe dei o recado cedo. Ambos me revelaram o segredo.
2. Quando ocorre pausa que desampara o pronome, ele vai para trás do verbo. Que pausa? Vírgula ou ponto e vírgula. Compare: Aqui se fala português. (Aqui, fala-se português.) O servidor brigou com o chefe? Não; deu-lhe sugestões.
Olho vivo! Às vezes, a vírgula separa termo intercalado. Viva! Cessa tudo o que a musa antiga canta. O apoio permanece. Está longe, mas sustenta o pequenino como se estivesse juntinho: Maria me telefonou. (Maria, antes de sair de casa, me telefonou.) O pai lhe disse que viajaria no fim do ano. (O pai, sem mais nem menos, lhe disse que viajaria no fim do ano.) Talvez se disponha a escrever o artigo. (Talvez, motivada, se disponha a escrever o artigo.) Ele nos comunicou o fato por e-mail logo que recebeu a informação. (Ele, logo que recebeu a informação, nos comunicou o fato por e-mail.)
Atenção
Falamos da norma culta — a exigida em concursos, na escola e no exercício profissional. Na língua descontraída, que veste camiseta e bermuda, vale a norma cantada por Oswald de Andrade no poema “Pronominais”:
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E o mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
da nação brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso, camarada,
Me dá um cigarro.