Operação Três Poderes

Publicado em Íntegra

Com a prisão do senador petista Delcídio do Amaral, milhões de olhos incrédulos da nação assistem ao derretimento da República. Com os olhos voltados à mesa do Supremo Tribunal Federal, para ouvir as respostas dos magistrados às insinuações feitas à Corte Suprema, a ministra Cármen Lúcia acalma a população: “Na história recente da nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós, brasileiros, acreditou no mote segundo o qual uma esperança tinha vencido o medo. Depois nós nos deparamos com a Ação Penal 470 e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora, parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a Justiça. Aviso aos navegantes dessas águas turvas de corrupção e das iniquidades: criminosos não passarão a navalha da desfaçatez e da confusão entre imunidade, impunidade e corrupção. Não passarão sobre os juízes e as juízas do Brasil. Não passarão sobre novas esperanças do povo brasileiro, porque a decepção não pode estancar a vontade de acertar no espaço público. Não passarão sobre a Constituição do Brasil”.

Mais uma vez o enxovalhamento das instituições do Estado é mostrado às claras. Todas elas. Tratadas apenas como meio de enriquecimento rápido por vivaldinos de toda a espécie, os Poderes da República, desmoralizados, vão se distanciando, cada vez mais, da finalidade e razão para as quais foram concebidos. Já não servem à sociedade. Servem, isso sim, para poucos. Ao restante da população que trabalha e paga altos impostos, cabe o papel de bobo. Pobre país que tem de ser salvo da maior rapina já vista, pelo instituto da delação premiada, mecanismo mais apropriado para debelar quadrilhas de malfeitores.

Caído em desgraça, pela gravação oculta, Delcídio Amaral, que presidiu, com certa independência, a CPI dos Correios, que resultaria na descoberta do mensalão, mesmo isentando Lula, passou a ser tratado como traidor e persona non grata pela direção do partido. Tão logo se anunciou sua prisão, o PT tratou de jogá-lo ao mar. Dizia o filósofo de Mondubim que a ingratidão é um tigre.

Na sequência lógica dos acontecimentos, quando o corpo esfriar pela longa permanência no catre, no jargão policial, “seu queixo vai amolecer”, e encurralado entre uma pena de reclusão de anos e a oferta de falar em troca de redução da sentença, poderá fazer como a maioria e dizer que o viu e ouviu todos esses anos. O que pode fazer um homem magoado e deixado à própria sorte, consciente de que sua carreira visível e invisível pela população desmoronou de vez. A nota divulgada pelo Partido dos Trabalhadores, e logo tachada de oportunista e covarde, se fixada na parede da cela, poderá vir a se constituir na oração de ódio à antiga legenda.

As manchetes de todos os jornais do país dão que o Planalto treme. Lula e Dilma tremem. Mas esse tremelique logo se acalma, quando, ao olhar ao redor, o que se vê é uma bola de ferro da corrupção amarrada nos pés de cada um. Por isso, o presidente Lula está certo de que o pontapé pode ser dado, mas o jogo do impeachment, preso à pelota da corrupção em massa, não vai permitir o prosseguimento da partida de Dilma.

Para uma República, que começa a ser desmantelada a partir de uma delegacia de polícia, sobrará pouco. Quem sabe a rota de fuga, anunciada na conversa gravada, não venha a ser usada efetivamente por todos os envolvidos citados. Na dúvida, melhor confiscar o passaporte dessa gente toda e reforçar o controle nas fronteiras. Sabe-se lá se há uma operação em curso que a Polícia Federal pode ter batizado de Montesquieu.

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