Cidades vivas e cuidadas

Publicado em Íntegra

 

Para as cidades, qualquer uma, não existem soluções fáceis. Contrariamente ao que pensa a maioria das pessoas, a cidade é organismo vivo: nasce, cresce, se desenvolve, entra em falência e, em alguns casos, são abandonadas e simplesmente deixam de existir. Ruínas espalhadas por todo o planeta, como lápides encobertas pela vegetação, provam que as cidades morrem não só devido à incúria individual de seus governantes, mas sobretudo por ações indevidas de cada um dos seus habitantes.

De todos os males que afetam uma cidade, nenhum é mais fatal do que o desprezo pelos métodos de planejamento contidos no urbanismo. À semelhança dos humanos, a saúde de uma metrópole requer série de medidas preventivas que só o planejamento urbano metódico, feito por especialistas no assunto e com base em estudos científicos, é capaz de prover.

Em oportuna reportagem, feita por Flávia Maia, do Correio para o Caderno Cidades desse domingo, intitulada “A crescente mancha urbana do DF”, ficou demonstrado que, desde a criação, Brasília sofreu processo de expansão acelerado que multiplicou em 15 vezes a ocupação do solo.

O inchaço da cidade foi particularmente mais significativo a partir da emancipação política da capital, trazida pela Carta de 1988. Já pelos 18 anos seguintes, até 2006, durante a gestão de Joaquim Roriz, “a mancha urbana duplicou, passando de 30.962 hectares ocupados para 64.690”. Nesse período, nada menos do que 22 regiões administrativas foram criadas.

A associação entre a especulação imobiliária, feita por grandes empreiteiros e políticos gananciosos, elevou a ritmo de ocupação das terras públicas a patamares nunca vistos. A consequência dessa mudança no status político da capital, com a formação de governanças baseadas na troca de favores (lote por voto) e em que não só o GDF, mas a Câmara Legislativa teve participação efetiva, pode ser presenciada hoje no dia a dia da população brasiliense, com os sistemáticos congestionamentos no trânsito, nos serviços públicos, no aumento da violência, na ameaça de falta de água e outros males urbanos.

Ao lançar na lata de lixo os preceitos do urbanismo, em troca de soluções fáceis a curto prazo, quem paga, como sempre, é a população. Por isso, causa estranheza que, diante do comprometimento do futuro da cidade, o atual governo anuncie a aceleração na venda dos lotes em condomínios apenas para fazer caixa e ampliar investimentos. É bom que o GDF mire nos erros cometidos por gestões passadas, reflita sobre eles, olhando a cidade em volta, antes de lançar os dados sobre a delicada questão das terras públicas, ou seja ,das terras de todos os brasilienses.

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