Quando você se depara com um bilhete premiado de R$ 13 milhões

Publicado em Economia

ROZANE OLIVEIRA

Ontem (segunda-feira, 5 de março) aconteceu comigo. Conheci um ganhador de loteria e, assim como ele não sabia o que era um bilhete da Quina, não sei o nome dele até agora.

 

Como dizia um dos filhos do meu marido quando era adolescente, aconteceu comigo um fato estarrecedor. Estava calmamente saindo do supermercado quando fui abordada por um senhor — mais ou menos da minha idade, não sei calcular, grandão, parrudo — que me perguntou: “A senhora sabe se tem algum depósito de roupas e sapatos por aqui?”.

 

Respondi que não conhecia, e questionei se ele tinha certeza se o tal depósito ficava realmente por ali. Ele me mostrou um papel com algumas coisas escritas que, confesso, não prestei muita atenção e que tinha como endereço: Quadra 3 Comercial, sem dizer de onde. Disse que aqui em Brasília havia várias quadras 3…

 

Ele respondeu que morava em um sítio em uma cidade próxima a Brasília e que um vendedor de roupas e sapatos havia vendido uns produtos para a mãe dele e, como não tinha troco para R$ 100 — as peças custaram R$ 90 —, tinha dado um cupom para eles dizendo que estariam concorrendo a alguma coisa. O mesmo homem havia, agora, entrado em contato com a mãe dele pedindo que ele trouxesse o bilhete a Brasília, pois a mãe tinha ganhado R$ 20 mil, além de uma máquina de costura, uma peça de tecido e algumas roupas e sapatos.

 

Mulher de pouca fé, achei que ele tinha caído em algum conto do vigário. Nessa hora, passou uma outra senhora, a quem ele perguntou a mesma coisa sobre o depósito. Ela, como eu, disse que não conhecia nada parecido por ali. Contei o que ele tinha me dito para ela que, mais compreensiva e solidária que eu, tentou buscar alguma explicação para aquela história.

 

O tal cupom

 

Foi então que ele puxou do bolso o tal cupom que nada mais era do que um jogo de Quina, com duas carreiras de apostas. Quando vimos o bilhete, explicamos para ele que aquilo não era um cupom e que a pessoa que tinha lhe dado aquilo não pagaria nada, pois não estava concorrendo a nada, mas que ele deveria ir a uma agência da Caixa Econômica ou a uma casa lotérica para ver se havia ganhado alguma coisa.

 

Como a Caixa Econômica mais próxima de nós estava fechada por causa da greve de vigilantes, sugerimos que ele fosse à lotérica do shopping da redondeza. Ele ficou meio ressabiado, disse que não sabia ler, que o tal vendedor tinha dito para ele não falar com ninguém sobre o cupom, e não se mexeu.

 

A senhora sugeriu que fôssemos com ele atá à lotérica para ajudá-lo, e eu topei. Quando chegamos ao shopping, o senhor disse que preferia que fôssemos sozinhas, pois ele não queria falar com mais ninguém sobre aquilo. Foi quando Luíza (a outra senhora) pediu para ver o jogo para podermos pedir o resultado do concurso na lotérica.

 

No caminho, fomos conversando e lamentando como tinha gente mal intencionada no mundo. Que o cara, provavelmente, tinha sido vítima de um golpe. Entramos na lotérica, enfrentamos uma pequena fila, mas saímos de lá com o resultado. No caminho de volta, vimos que o senhor grandão continuava encostado na pilastra em que o havíamos deixado.

 

Explicamos que aquele era o resultado do jogo e pedimos o bilhete. Li o resultado enquanto Luíza conferia. Me arrepiei toda quando ela disse que ele tinha ganhado. Fomos olhar o prêmio e era de R$ 13 milhões. Ou seja, aquele senhor, que até agora não sei o nome, estava com um bilhete premiado no bolso.

 

Em choque e com a Caixa fechada, Luíza jogou fora o resultado, mandou ele guardar o bilhete no bolso, não falar nada com ninguém, ir para casa, se acalmar (ele estava pálido) e procurar alguém da família em quem ele confiasse para ir com ele a uma agência da Caixa na cidade dele. O homem estava tão nervoso (e nós também), que saiu caminhando rápido, sem falar mais nada. Nem se despediu.

 

No caminho para a minha casa, ainda passei de carro por ele, perguntei se ele queria que eu o levasse a algum lugar para pegar uma condução, ao que ele respondeu: “Vou pegar um carro de aluguel e vou para casa, fique tranquila”. Disse para ele tomar cuidado e segui meu caminho.

 

Brasília, 18h24min