Portugal brinca com fogo: apoio à extrema-direita quase dobra no país

Publicado em Economia

Dados de uma pesquisa sobre intenção de votos nos principais partidos políticos de Portugal mostram crescimento impressionante do Chega, legenda de extrema-direita que já é a terceira força da Assembleia da República, com uma bancada de 12 deputados.

 

Segundo o levantamento, realizado pelo Instituto Intercampus para um grupo de jornais, as intenções de votos no partido de ultradireita saltou de 7,2%, há um ano, para 13,5%, ou seja, quase dobrou. Esse aumento confirma que o discurso inflamado do deputado André Ventura, presidente do Chega, está ecoando entre os portugueses.

 

Ventura ataca a imigração, que cresce sem parar em Portugal, puxada pelos brasileiros, com discursos xenófobos, e prega o conservadorismo, seguindo a mesma estratégia populista que levou Jair Bolsonaro à presidência do Brasil e Donald Trump ao comando dos Estados Unidos — os dois não foram reeleitos.

 

Por enquanto, com tal apoio, não há chances de o Chega tomar o poder em Portugal, mas, mantido o crescimento do último ano, incomodará muito. Curiosamente, o partido atrai apoio de brasileiros, especialmente os evangélicos, que podem votar no país europeu, e prevalece entre portugueses que vivem no Brasil.

 

Descontentamento é grande

 

Especialistas em política dizem que o Chega se aproveita da insatisfação das classes menos favorecidas e da classe média com a disparada da inflação e a piora da sensação de bem-estar social. Muitos portugueses tiveram de cortar despesas, inclusive com alimentação, para fechar o orçamento mensal.

 

Há outro fator que tem incomodado muito esse público: o forte aumento dos preços dos alugueis, sobretudo nos grandes centros urbanos, como Lisboa e Porto. Os portugueses de menor renda estão sendo expulsos para as periferias e cidades menores. Para tentar reverter esse quadro, o governo anunciou um pacote na área de habitação, considerado muito intervencionista, que ainda depende de aprovação do Parlamento.

 

Apesar do descontentamento crescente, a mesma pesquisa aponta que o Partido Socialista (PS), que tem maioria absoluta na Assembleia da República e dá suporte ao primeiro-ministro, António Costa, ainda é o partido preferido entre os portugueses. Tanto que viu suas intenções de votos crescer entre fevereiro e março, de 23,4% para 25,2%.

 

O PSD, dos sociais democratas, que pleiteiam comandar Portugal a partir das próximas eleições, também avançou, de 22,8% para 24,2%. O Bloco de Esquerda, por sua vez, teve incremento de 1,6 ponto percentual na preferência do eleitorado, para 6,4%.