Planalto dividido entre juros e ataque dos EUA à Síria

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O Palácio do Planalto está acompanhando com muita atenção todos os movimentos dos Estados Unidos, que, ontem à noite, fez um ataque à Síria, deixando pelo menos nove civis mortos, mas não esconde a satisfação com o resultado da inflação de março, que ficou em 0,25%, o menor nível para o mês desde 2012. No primeiro trimestre do ano, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cravou elevação de 0,96%, o nível mais baixo para o período desde 1994. Um feito, diz um assessor do presidente Michel Temer.

Para o Palácio do Planalto, o resultado da inflação assegura que o Banco Central cortará a taxa básica de juros (Selic) em pelo menos um ponto percentual, de 12,25% para 11,25% ao ano, na próxima semana. Quando ressalta “ao mesmo um ponto de redução”, o Palácio acredita que há espaço de sobra para que o Comitê de Política Monetária (Copom) avance os passos e possa derrubar a Selic em 1,25 ou mesmo em 1,50 ponto percentual. “Basta ter um pouco mais coragem”, afirma ou outro auxiliar de Temer.

Os assessores de Temer reconhecem que, com o conflito aberto pelos Estados Unidos e com as negociações que vêm sendo pelo governo com o Congresso no projeto de reforma da Previdência Social, os ruídos nos mercados vão aumentar. Mas, no entender do Planalto, nenhum desses motivos são suficientes para conter o movimento de redução rápida dos juros. “A inflação caminha para ficar abaixo do centro da meta, de 4,5%, a economia está fraquíssima, não havendo, portando, espaço para repasses aos preços, e o desemprego é assustador”, acrescenta um técnico da Esplanada. “Portanto, a bola está com o BC.”

A perspectiva do Planalto é de que, com a Selic caindo ao menos um ponto percentual dia 12 de abril, o BC passe a fazer um movimento maior de pressão sobre os bancos, para que, finalmente, as taxas de juros cobradas de empresas e de consumidores, comecem a cair. Sem isso, acrescentam os auxiliares de Temer, o trabalho realizado pelo Banco Central ficará pela metade. “Os juros que valem para a economia real, para os tomadores de crédito, precisam baixar urgentemente. Sem crédito, a economia continuará asfixiada”, complementa o técnico da Esplanada.

A sexta-feira, destacam auxiliares de Temer, promete. “Vamos ficar com um olho nos EUA, outro no BC. Precisamos de boas notícias. E o presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn sabe o quanto isso é importante”, assinala um dos auxiliares presidenciais. “Não se trata de pressão política. Muito pelo contrário. Se há algum tipo de pressão, ela vem de fatos reais, como a forte queda da inflação. O BC deve se pautar unicamente pela realidade”, conclui.

Brasília, 09h35min

Vicente Nunes