Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados/Rosana Hessel/DAPress

PIB potencial brasileiro encolhe para 0,4% em 2022, estima MB Associados

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

O ministro da Economia, Paulo Guedes, insiste em afirmar que o Brasil está decolando de novo, mas, na verdade, o país cresce muito pouco desde a recessão de 2015 e 2016 e, para piorar, os números do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2022 mostram que o Brasil perdeu definitivamente a capacidade de crescer.

Apesar da alta de 1% no PIB de janeiro a março, na comparação com o três meses anteriores, o potencial de crescimento do país passou para 0,4% no período, de acordo com dados da MB Associados. A consultoria que prevê crescimento de 1% no PIB deste ano e 0,5% no de 2023, lembra que, entre 2010 e 2011, o PIB potencial era de 3,5% e recuou para 0,7% na entre 2012 e 2022.  “Pois é, o PIB potencial baixou muito nos últimos anos e perdeu ainda mais força no atual governo”, destacou o economista-chefe da MB, Sérgio Vale, em entrevista ao Blog.

 

O PIB potencial é um importante indicador na metodologia do Banco Central para a condução da política monetária, pois é o termômetro que indica se a economia cresce acima da sua capacidade.  Quando estiver crescendo acima do potencial, pode haver pressão inflacionária e, com isso, o Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, precisa continuar elevando os juros diante dessa contradição de que o país, embora tenha crescido pouco, o encolhimento do PIB potencial tem ajudado a criar pressões inflacionárias, além do choque de preços das commodities devido à guerra na Ucrânia.

 

“A saı́da da pandemia, que ajuda serviços, e o efeito das commodities, que impacta positivamente o interior, tem feito com que a economia acabe crescendo mais do que ela teria condições de crescer sem gerar pressões inflacionárias”, destacou Vale no relatório divulgado nesta quarta-feira (15/6) aos clientes.

 

Logo, a decisão do Copom de hoje deve seguir na direção para conter as pressões inflacionária e o consenso do mercado é de que a Selic deverá subir 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano, conforme a sinalização do BC na reunião de março. De acordo com a maioria dos analistas do mercado, o Banco Central dificilmente  vai encerrar o ciclo de alta da Selic, iniciado em março de 2021, agora. Pelo menos, os juros deverão continuar subindo até agosto, mas há um alerta para a piora do quadro fiscal que poderá exigir um trabalho ainda maior do BC.

 

De acordo com Vale, esse movimento do governo Jair Bolsonaro (PL) e do Congresso Nacional com medidas fiscais eleitoreiras para tentar conter a alta dos preços dos combustíveis, — devem ter um efeito muito pequeno no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano, se houver mesmo repasse para o consumidor nas bombas –, devem contribuir para que os juros continuem subindo, para a alegria do investidor em renda fixa, mas para o desespero das famílias endividadas, que precisarão segurar o consumo e, consequentemente, a economia não vai conseguir crescer.

 

“A chance de revisão do IPCA para cima ano que vem é grande. O governo está adiando problemas e vai atrapalhar a vida do BC. Só que o preço a pagar vem agora com juros mais elevados”, alertou Vale.

 

Por enquanto, a MB prevê a taxa básica encerrando o ano em 13,75%, mas o economista não descarta juros acima desse patamar, pois o viés é de alta, especialmente após a aprovação do projeto de lei complementar do teto de 17% no Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) dos combustíveis. Algumas casas, como a Itaú Asset, está revendo as projeções e já sinalizou que a Selic poderá chegar em 15% neste ano.

 

Não à toa, as previsões para a taxa básica de juros (Selic) acima de 14% continuam no radar, pois o cenário inflacionário para 2023 tende a ficar cada vez pior, com essas medidas eleitoreiras que vão custar caro ao contribuinte — que sempre paga a conta –, porque essa redução dos impostos sairá do bolso de todos os brasileiros de uma forma ou de outra.

 

De acordo com Sergio Vale, outro fator que deverá continuar contribuindo para manter as pressões inflacionárias é o câmbio. O dólar voltou a subir nesta semana e retomou o patamar de R$ 5,10, em meio à piora do cenário externo e interno — com a inclusão dos riscos fiscais no radar dos investidores. Pelas estimativas do economista, o patamar ideal para o câmbio ajudar  na inflação é de R$ 3,80, ou seja, “O elemento que mais poderia ajudar a uma descompressão da inflação neste momento seria uma forte queda no câmbio. Assim, como isso ajudou no ciclo inflacionário de 2015 a  2017, agora, não seria diferente. O problema é que as condiçoes que sustentaram aquela queda não estão presentes hoje, especialmente a mudança política, que permitiu uma troca radical na condução da política econômica”, explicou Vale.

 

“Esse câmbio de equilíbrio é baseado em fundamentos que não se concretizam no câmbio por causa dos riscos políticos e fiscais. O próprio governo é o grande culpado do câmbio não estar em R$ 3,80, mas também o risco futuro de um governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula, da Silva (PT), por exemplo, que sabemos terá enorme dificuldade em lidar com a questão fiscal, também está no radar”, acrescentou.

 

É bom lembrar que a inflação, aliás, tem sido o principal fator para a melhora na arrecadação e do quadro fiscal — uma das justificativas para o governo adotar as medidas fiscais eleitoreiras que terão efeito apenas de curto prazo, se houver –, pois, os produtos e serviços estão mais caros, e, portanto, a receita de impostos sobre o faturamento das empresas tende a crescer, a despeito da renda do brasileiro estar no menor patamar da história.