Teme-se que o Banco Central se mostre leniente no controle da inflação apenas para agradar Bolsonaro, que não quer ouvir falar em desaceleração da economia. Na visão de parte do mercado, para dar um choque de credibilidade e tentar conter o estrago provocado por Guedes ao defender o Auxílio Brasil de R$ 400, fora do teto de gastos, o BC deveria ser mais rígido na política de juros.
Pelo que está desenhado até agora, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentará a taxa básica de juros neste mês (a reunião está marcada para os dias 26 e 27) em um ponto percentual, para 7,25% ao ano. Mas, ante a crise fiscal que deflagrou na debandada de integrantes do Tesouro Nacional, analistas acreditam que melhor seria uma alta mais expressiva, de 1,5 ponto percentual.
Populismo fiscal
A visão majoritária no mercado é de que, com a adesão de Guedes ao populismo fiscal, a inflação deste ano será maior do que o esperado, puxada pela arrancada do dólar, que caminha para R$ 6. Assim, o Banco Central precisa avançar os passos para evitar o descontrole dos preços. Ou seja, antecipar-se aos fatos para garantir o que ainda resta de credibilidade na política econômica — se é que resta.
Na média, os especialistas veem a taxa Selic indo até 8,75%, mas várias instituições caminham suas apostas para 9,75% ou mesmo 10% ao ano. O problema é que tudo degringolou com a confissão do ministro da Economia de que ele é fura-teto e de que Bolsonaro exagerá nas ações para tentar ficar mais quatro anos no Palácio do Planalto, razões que levaram a uma debandada do Ministério da Economia.
Por enquanto, Campos Neto tem um voto de confiança do mercado. Contudo, todos sabem que está mais político e costuma fechar posição com Guedes. Se esboçar qualquer sinal de que também abraçou o descontrole das contas públicas para ajudar Bolsonaro, pagará caro. O mercado não perdoa traição. Guedes já caiu em desgraça.
Brasília, 20h01min