Mercado aposta em corte na Selic de até 1,0 ponto percentual

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

Diante da piora das perspectivas da atividade econômica global  em virtude da Covid-19, pandemia provocada pelo novo coronavírus, a expectativa do mercado agora é que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, deverá reduza os juros em até 1,0 ponto percentual. Além disso, as previsões para a taxa básica de juros (Selic) chegam a 2,5% ao ano. 

Após o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) anunciar uma nova redução pela segunda semana consecutiva para um intervalo entre zero e 0,25%, e os bancos centrais iniciarem uma nova rodada de cortes, as estimativas de corte para a segunda reunião do Copom, nesta semana, variam entre 0,50 ponto percentual e 1,0 ponto percentual. Atualmente, a Selic está em 4,25% ao ano, o menor patamar da história. 

 

“As medidas do Fed, certas ou erradas, reforçam a expectativa de recessão global”, frisou o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Ele aposta em corte de 0,50 ponto percentual na Selic esta semana.

 

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, e a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, preveem corte de 0,75 a 1,0 ponto percentual na Selic. “O Brasil  não escapará de sofrer as consequências dessa crise. A possibilidade de recessão dependerá do impacto do vírus no segundo trimestre”, afirmou Vale, que passou a prever crescimento de 1% no Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.

 

Solange defendeu um corte rápido dos juros, mas reconheceu que o impacto deverá ser muito pequeno na atividade. Ela ainda lamentou o fato de o governo não estar conseguindo se articular com o Congresso para que avance nas reformas necessárias para a retomada da economia.

 

O economista José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília, aposta em um corte de 1,0 ponto percentual na Selic, que poderá chegar a 3% no fim do ano.

 

De acordo com o ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas Gomes, o corte da Selic será no máximo, 1,0 ponto percentual nesta semana, mas a tendência é que os juros continuem em queda até chegar a 2,5% no fim do ano. Segundo ele, as medidas anunciadas pelo BC nesta segunda-feira (16/03),  são positivas para facilitar os financiamentos das empresas.

 

“O problema no mercado não é falta de liquidez. Os bancos precisam emprestar mais dinheiro e isso só vai acontecer se o BC reduzir a Selic para 2,5% até o fim do ano”, avaliou. Considerando as chances de a inflação encerrar o ano em 3%, pelas contas do ex-diretor do BC, o país passaria a ter juros reais negativos. “Vamos ter juros negativos. É bom que isso aconteça. Isso obrigaria os bancos a emprestarem mais em vez de aplicar em títulos da dívida pública e, de quebra, o custo desse endividamento também cairia, abrindo espaço fiscal para o governo”, explicou.

 

Na avaliação do economista da CNC, como as reservas internacionais são elevadas, o BC poderia utilizá-las para conter qualquer outra pressão no câmbio por conta da queda na Selic. “O novo patamar do dólar vai ser R$ 5 e deverá se manter por um bom tempo”, disse Freitas Gomes.  

 

A divisa norte-americana encerrou o dia de hoje acima de R$ 5 pela primeira vez na história.

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