Juros ao consumidor encostam em 1.000% ao ano. BC e Ministério da Justiça veem agiotagem

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POR ANTONIO TEMÓTEO

 

Em meio ao aumento do desemprego, à recessão e à elevação da inadimplência, há instituições financeiras cobrando juros de quase 1.000% ao ano. As taxas são 55 vezes maiores do que as mais baixas, de 16,7% anuais. Por meio de slogans apelativos, que prometem limpar o nome das pessoas das listas de maus pagadores, diversas empresas atraem brasileiros desesperados para pagar as dívidas. Diante do nervosismo da busca por uma solução para colocar as contas em dia, muitos esquecem que o custo dos financiamentos compromete boa parte do orçamento e são comuns os casos de clientes que voltam para o grupo de caloteiros.

 

Um caso emblemático nesse mercado é o da Crefisa, empresa que atende exclusivamente servidores públicos, aposentados e pensionistas que estão negativados. A instituição  ostenta a segunda colocação entre as que cobram as maiores taxas do país. O custo dos financiamentos chega a 21,45% ao mês ou a 929,49% ao ano, conforme dados do Banco Central (BC). Fica atrás apenas da Facta, com juros de 989,14% ao ano. As financeiras justificam que os custos dos empréstimos são praticados de acordo com o mercado e o perfil de clientes, considerados de alto risco. Para o BC e o Ministério da Justiça, encargos nesses níveis beiram à agiotagem.

 

Dados do BC mostram que, até dezembro de 2015, a Crefisa tinha patrimônio líquido de R$ 3 bilhões, dos quais, R$ 2,2 bilhões estão emprestados. A possibilidade de prejuízo leva as provisões para perdas a R$ 571,8 milhões, que correspondem a 26,16% da carteira total de crédito. Dos financiamentos, 32,5%, o equivalente a R$ 710,9 milhões, estão com atrasos de pagamentos superiores a 90 dias.

 

O economista Nicola Tingas, especialista no mercado de crédito, detalha que as instituições financeiras estão mais cautelosas para oferecer linhas de crédito aos clientes. Ele explica que o aumento do desemprego e o crescimento da inadimplência reduziram a demanda por empréstimos. Entretanto, Tingas ressalta que algumas empresas mantêm as taxas em níveis bem acima da média diante do risco que assumem ao realizar as operações. “Os brasileiros precisam ter cuidado antes de buscar qualquer instituição financeira para que o recurso tomado não se torne um problema”, alerta.

 

Brasília, 15h30min