Dona da Crefisa tentou “enquadrar” secretária de Defesa do Consumidor

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POR ANTONIO TEMÓTEO

 

Além de cobrar  juros abusivos de mais de 900% ao ano, a Crefisa e seus controladores acumulam polêmicas. Revoltada porque a financeira foi multada, em agosto de 2015, em R$ 8,2 milhões, pela Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça, a presidente da companhia, Leila Mejdalani Pereira marcou uma reunião para o fim daquele mês com a então titular da pasta, Juliana Pereira da Silva. Queria explicações sobre o que levou o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) a aplicar a sanção. Conhecida por comandar com mão de ferro as 11 companhias das quais é sócia, Leila foi enérgica ao afirmar que isso nunca tinha ocorrido nos 50 anos de história da financeira. Também reclamou da dificuldade em conseguir um horário na agenda de Juliana.

 

A postura insurgente não prevaleceu na conversa. Acostumada com o chororô de diversos executivos que tentavam, sem sucesso, reverter as punições recebidas, Juliana tratou de enquadrar Leila, relataram técnicos do Ministério da Justiça. A ex-secretária advertiu que a financeira cobrava indevidamente tarifa para confecção de cadastro de pessoas que já eram clientes da Crefisa e que a prática violava os direitos do consumidor, além das normas do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do BC. As investigações sobre as irregularidades começaram em 2013, após a autoridade monetária encaminhar à pasta denúncia com apurações preliminares.

 

Disputas

 

Juliana ainda frisou que qualquer entendimento diferente que ela tivesse poderia ser submetido ao Judiciário e que a própria mãe não tinha privilégios para ser recebida em seu gabinete ou para ter uma ligação atendida. Desacostumada a perder uma disputa, Leila foi embora ciente de que, com seus contatos, políticos, conseguiria enquadrar a secretária de Defesa do Consumidor. A executiva pediu a ajuda do então ministro dos Esportes, George Hilton, para que fosse recebida em um novo encontro, fato negado pelos dois. Juliana afirmou a Hilton que as portas do ministério estavam abertas a todos. Nas reuniões seguintes, a cordialidade prevaleceu e, em 25 de janeiro, as partes assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).

 

Pelo acordo, a Crefisa apresentaria até o fim de março a lista dos consumidores que receberam a cobrança indevida e, no mesmo prazo, seriam reembolsados. Além disso, a financeira se comprometeu a investir R$ 7,5 milhões para modernizar o site criado pela secretaria para mediar problemas entre empresas e clientes. A desavença com a Secretaria Nacional do Consumidor é um dos episódios da história de Leila, que ganhou os holofotes desde o último ano, após decidir patrocinar o Palmeiras, time do coração do marido e sócio, José Roberto Lamacchia.

 

Procurada, a Crefisa informou que, todas as vezes em que representantes da empresa precisaram se reunir com servidores da Senacon, as reuniões foram marcadas e eles sempre foram bem atendidos. Leila afirmou que não conhece o ministro dos Esportes e nunca entrou em contato com ele. George Hilton disse não conhecer a presidente da Crefisa. O Correio, porém, confirmou as informações com cinco pessoas a par do assunto.

 

Leila nasceu em Cambuci (RJ), mas ainda jovem mudou-se para Cabo Frio (RJ), onde o pai, Delorme Baptista Pereira, fez carreira como médico. Aos 17 anos, deixou a família para estudar na capital fluminense e se formou em jornalismo e direito. Trabalhou na antiga emissora Manchete, mas a carreira na televisão durou pouco tempo. Após se casar com Lamacchia, mudou-se para São Paulo (SP) e começou a trabalhar no departamento jurídico da Crefisa. Ainda passou por uma diretoria da empresa até ser escolhida presidente.

 

Um especialista no mercado de crédito que preferiu anonimato destaca que os juros praticados pela Crefisa são exorbitantes. Ele comenta que os clientes já negativados têm dificuldade em honrar os compromissos assumidos e por isso a inadimplência é tão alta. “O risco da operação é diluído pelas enormes taxas e pela escolha de um público que tem renda garantida e não sofre com o desemprego”, comenta.

 

Uma outra executiva do mercado financeiro que preferiu não se identificar explica que são comuns os casos em que donos de financeiras possuem várias outras empresas que podem ser usadas para socorrer o caixa da instituição em momentos de crise. Além de ser dona da Crefisa, Leila é sócia de outras 10 empresas, entre incorporadoras, prestadoras de serviços aéreos, de telemarketing, de cobrança, de serviços cadastrais, de uma agência de publicidade e de uma faculdade. Em todas as companhias, o marido é seu sócio.

 

Brasília, 16h01min