A equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tomou posse carimbada pelo selo da excelência. Era comum ouvir no mercado financeiro que o ministro não poderia ter escolhido time melhor. “Enfim, um grupo capaz de tirar o país do buraco”, disse, à época, um diretor de um banco estrangeiro. “Com os escolhidos por Meirelles, a Fazenda pula da terceira para a primeira divisão”, completou um gestor de uma carteira de R$ 14 bilhões.
Pois, passados quase três meses do governo de Michel Temer, o clima entre os auxiliares de Meirelles já não é de tanta autoconfiança. Há um certo descontentamento com o encaminhamento que vem sendo feito pelo governo, sob o argumento da interinidade, nas negociações com o Congresso, que podem desfigurar o prometido ajuste fiscal. Com diz um dos técnicos, “algo de muito estranho está acontecendo e o resultado pode ser muito ruim”.
O mesmo sentimento de desconfiança começa a tomar conta do mercado financeiro. A grande pergunta que todos estão fazendo, depois do liberou geral no projeto de renegociação de dívidas de estados, é se o governo terá força suficiente para levar adiante, como saiu da Fazenda, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o aumento de gastos à inflação do ano anterior. Teme-se uma onda de concessões que deixem as contas públicas no estágio em que estão: no vermelho.
Meirelles sentiu o baque das concessões que foi obrigado a fazer. Nos últimos dias, reuniu-se com vários integrantes de sua equipe para construir um discurso de que tudo está bem, que, tão logo o impeachment definitivo de Dilma Rousseff seja aprovado, tudo será diferente e o governo adotará medidas duras e, se preciso for, impopulares, para cumprir todas as metas assumidas.
Quando, porém, um ministro precisa fazer esse tipo de convencimento com sua equipe, deve-se botar as barbas de molho. O risco de fracasso entrou no horizonte da Fazenda.
Brasília, 10h30min