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Inflação do aluguel desacelera, mas continua acima de 35% em 12 meses

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), indicador utilizado para a correção do aluguel, registrou alta de 0,60% no mês de junho, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), a menor variação desde maio de 2020, de 0,28%.

 

Com esse resultado, o IGP-M apresentou desaceleração em relação ao avanço de 4,10% contabilizado em abril. Essa constatação agradou analistas mais otimistas com a perspectiva da inflação, mas não afasta a preocupação de uma inflação mais forte neste ano do que em 2020, puxada, principalmente, pelo aumento dos preços das commodities no mercado internacional.

 

No ano, a alta acumulada ficou em 15,08% e, em 12 meses até junho, registra um salto de 35,75%. Este percentual, apesar de ser inferior ao pico de maio, de 37,04%,  é quase cinco vezes superior à alta de 7,31% acumulada até junho de 2020, quando o indicador havia registrado elevação de 1,56%, no auge da primeira onda da pandemia da covid-19. 

 

Na avaliação do economista do FGV Ibre André Braz, coordenador dos Índices de Preços, essa desaceleração em junho deve-se às quedas nos preços das principais commodities, tanto agrícola quanto minerais, que apresentam recuo no mercado internacional, e essa tendência é sustentada pela desvalorização recente do dólar. Ele citou os recuos nos preços da soja, do milho e do minério de ferro como principais destaques de junho e reforçou que a tendência é que esse efeito deverá perdurar durante o segundo semestre de 2021.

 

“A valorização do real deve permanecer, mas não na magnitude do ano passado, mas o dólar deverá manter um patamar em torno de R$ 5, evitando maiores repasses para o IGP-M”, apostou Braz. “O bom comportamento dos preços das commodities internacionais deve ser mantido e deve contribuir para o IGP-M em patamares mais baixos do que no segundo semestre de 2020”, afirmou. Segundo ele, a desaceleração do indicador na taxa acumulada em 12 meses deverá manter o ritmo de desaceleração.

 

Conforme os dados do IGP-M, o grupo das matérias-primas brutas ajudou o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) desacelerar de 5,23%, em maio, para 0,42% em junho, pois apresentou recuo de 1,28% ante a alta de 10,15% no mês passado. Contribuíram para o recuo da taxa do grupo os seguintes itens: minério de ferro (20,64% para -3,04%), soja em grão (3,74% para -4,71%) e milho em grão (10,48% para -5,50%). Outra contribuição para este resultado partiu do subgrupo alimentos processados, cuja taxa passou de 2,98% para 2,45%, no mesmo período de comparação.

 

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) apresentou variação positiva de 0,57% em junho na comparação com maio, quando registrou alta de 0,61%, puxado por queda cinco dos oito classes de despesa pesquisadas. Em contrapartida, transportes, despesas diversas e alimentação apresentaram altas de 1,43%, 0,29% e 0,31%, respectivamente.

 

 

Outro índice que compõe o cálculo do IGP-M, o  Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) subiu 2,30% em junho, ante 1,80% no mês anterior, segundo os dados do FGV Ibre. Os três grupos componentes do INCC registraram as seguintes variações na passagem de maio para junho: materiais e equipamentos (2,93% para 1,75%), serviços (0,95% para 1,19%) e mão de obra (0,99% para 2,98%).

 

Para o cálculo do IGP-M foram comparados os preços coletados no período de 21 de maio de 2021 a 20 de junho de 2021 (período de referência) com os preços coletados do período de 21 de abril de 2021 a 20 de maio de 2021 (período base).

 

O economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, destacou que o resultado do IGP-M de junho ficou abaixo da mediana das projeções, que era de 1%. “Esta é uma boa notícia no dia que devemos ver aumento na bandeira vermelha da energia elétrica e pode reverter em parte o mal humor na curva de juros. Contudo devemos lembrar que o IGP-M está rodando em 12 meses em nada menos que 35,75% e o IPA com alta de 47,53%”, afirmou.

 

Por conta disso, o analista aposta em uma alta mais forte na taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, em agosto. “Mantemos nossa projeção de alta de 1,0 ponto percentual na Selic na próxima reunião do Copom e projetamos que a taxa básica vá a 6,5%”, escreveu Perfeito em nota divulgada ao mercado hoje. Para ele, mesmo que venha uma alta relevante de energia elétrica a partir do próximo mês com a correção da bandeira tarifária, provavelmente, o Banco Central vai trabalhar a questão “como um choque temporário”.