Impacto eleitoral da PEC Kamikaze será pequeno e não garante vitória de Bolsonaro, diz Eurasia

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ROSANA HESSEL

O presidente Jair Bolsonaro (PL) está dando um tiro no pé no desespero de sair gastando a qualquer custo para tentar garantir a reeleição com a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 1, aprovada ontem pelo Senado Federal. A PEC dos benefícios, também chamada de PEC Kamikaze, deve abrir um rombo fiscal superior a R$ 40 bilhões nas contas públicas deste ano, aumentando, por exemplo, em 50% o principal programa de transferência de renda do governo, o Auxilio Brasil até o fim do ano. Mas o impulso eleitoral para Bolsonaro deverá ser modesto, de acordo com o cientista político Christopher Garman, diretor-geral para as Américas do Eurasia Group.

“Primeiro, os brasileiros que recebem o benefício são mais leais ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com um alto percentual dizendo que já decidiu seu voto; Além disso, após a aprovação do auxílio emergencial de 2021, houve uma defasagem de três meses entre o lançamento de um novo benefício e o aumento nos índices de aprovação de Bolsonaro”, destacou Garman em relatório enviado aos clientes nesta sexta-feira (1/7). Segundo ele, esses fatores sugerem que a PEC 1, provavelmente, teria um impacto modesto nos números de Bolsonaro — um aumento de um a três pontos percentuais, no máximo –, o que não é suficiente para alterar as chances de 70% do Eurasia Group de uma vitória de Lula em outubro. “A chave para uma vitória de Bolsonaro (de 25% a 30% de chances) continua sendo melhorias adicionais no mercado de trabalho e uma campanha negativa muito eficaz contra Lula antes da votação”, destacou.

Garman lembrou que o Congresso está a caminho de aprovar um aumento significativo no programa de transferência de renda do governo Auxilio Brasil. Em vez de financiar uma eliminação temporária dos impostos estaduais sobre diesel e gás de cozinha até o final do ano, o governo se voltou para uma estratégia de alocar esses recursos para aumentar os pagamentos a famílias de baixa renda em Auxílio Brasil a partir de uma bolsa mensal de R$ 400 para R$ 600. A proposta também dobra o vale para gás de cozinha para famílias de baixa renda para R$ 120 a cada dois meses, estabelece um novo vale mensal de R$ 1.000 para caminhoneiros, introduz um novo benefício para taxistas e subsidia as operações de transporte público dos municípios .

O valor total dessa proposta chega a R$ 41,25 bilhões, mas a parte do leão (R$ 26 bilhões) é para o aumento da bolsa Auxilio Brasil e o corte de eleitores beneficiários desse programa, 18 milhões de famílias, já é uma forte base eleitoral de Lula, “com uma porcentagem decente deles dizendo que já se decidiram nesta eleição”.

Vicente Nunes