Meirelles1 Foto: Marcelo Ferreira/CB/DA.Press

IBGE revisa crescimento do PIB em 2018 de 1,3% para 1,8%

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, nesta sexta-feira (06/11), a revisão do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2018, de 1,3% para 1,8%, chegando a R$ 7 trilhões. O PIB per capita registrou elevação de 1% em relação ao ano anterior, somando R$ 33.593,82, segundo o instituto.

 

Pelas novas projeções do IBGE, depois de encolher 3,5% e 3,3%, entre 2015 e 2016,  o PIB acelerou de 1,3% para 1,8%, nos anos seguintes, em vez de mostrar estabilidade como anteriormente previsto. Os dados fazem parte do Sistema de Contas Nacionais 2018, cujos dados mais detalhados revisam as Contas Nacionais Trimestrais.

 

Com essa revisão, a atividade da economia brasileira mostrou que estava acelerando durante o governo Michel Temer, após a forte recessão de 2015 e 2016. Isso confirma os resultados positivos da agenda liberal implementada pelo ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que abriu caminho para o novo governo aprovar a reforma da Previdência. O ex-ministro que chegou a concorrer à presidência pelo MDB em 2018, montou o “dream team” de economistas de Temer e apresentou uma agenda bem ampla para colocar a economia nos trilhos do crescimento.

 

Entretanto, no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, a economia mostrou uma desaceleração mais forte em relação a 2018 do que os dados anteriores em meio às confusões do chefe do Executivo em defender uma agenda mais ideológica e de retrocessos institucionais, principalmente, no meio ambiente. Em março deste ano, o IBGE divulgou alta de 1,1% no PIB do ano passado, primeiro ano da gestão do ministro da Economia, Paulo Guedes.

 

“Na divulgação do PIB do terceiro trimestre, em geral, tem revisão do ano anterior e em geral para cima. Vamos ver o que virá”, comentou o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, em entrevista ao Blog. O IBGE vai apresentar os dados do Sistema de Contas Trimestrais em 3 de dezembro.

 

Para Vale, faz sentido essa recuperação mais forte em 2018. “A agenda econômica estava bem encaminhada, com boas reformas avançando. Nos últimos dois anos, tirando a reforma Previdência e a lei de saneamento, duas coisas que vieram do Temer, nada avançou. Pelo contrário, piorou”, destacou.

 

As críticas para o fato de que o Posto Ipiranga de Bolsonaro não conseguiu cumprir as promessas de seu discurso de posse, como arrecadar R$ 1 trilhão com privatizações e fazer as reformas estruturais, inclusive, a administrativa e a tributária, são crescentes no mercado. A reforma da Previdência, cujo debate estava maduro no Legislativo durante o governo Temer, foi a única agenda deste governo que avançou.

 

Analistas especializados em contas públicas não deixam de alertar o grande problema que Guedes preicsará enfrentar que é o enorme rombo das contas públicas que está consumindo em um ano boa parte da economia esperada nos próximos 10 anos com a reforma da Previdência e fazendo com que a dívida pública bruta caminhe para mais de 100% do PIB ainda neste ano.

 

A derrubada do veto de Bolsonaro para a prorrogação da desoneração da folha até 2021, por exemplo, é um novo problema para Guedes que precisará negociar com o Congresso cortes de despesas no Orçamento do ano que vem para incluir essa nova despesa perto de R$ 5 bilhões, pelas contas do Ministério da Economia, que não estava prevista no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), que não tem margem alguma para novos desembolso sem que o teto de gastos seja rompido.

 

“O Orçamento considerado no PLOA vai ter que ser revisado para incluir esse gasto tributário com desoneração da folha. Esse benefício, criado inicialmente para exportações, foi ampliado e o governo estava tentando reverter porque é um incentivo que, comprovadamente, não teve efeito comprovado na economia, tanto que a extinção dele era uma promessa de campanha do atual governo”, destacou a economista Juliana Damasceno, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Ela lembrou que passaram quase dois anos e os programas sem efeito que deveria ser revistos pelo governo sequer foram apresentados pela equipe econômica que sempre criticou a “má alocação” de recursos de governos anteriores. 

 

Na avaliação de Juliana, o governo ainda precisará gastar mais com um novo programa de renda mínima, que ainda não está definido, para continuar minimizando os efeitos da crise deste ano em 2021 e isso também vai ameaçar o teto de gastos, apesar de as autoridades evitarem ao máximo tocar nesse assunto espinhoso que, certamente, refletirá negativamente no mercado.

 

Vale lembrar que o deficit primário para este nas contas do governo federal já está girando em torno de R$ 900 bilhões devido à medidas adotadas no combate à pandemia de covid-19 e analistas acham que, dificilmente, o governo conseguirá cumprir a previsão de reduzir esse rombo para R$ 233,6 bilhões em 2021 que está na meta fiscal do PLOA.

 

Investimentos crescem

 

Conforme os novos dados do PIB de 2018 divulgados pelo IBGE, depois de quatro anos seguidos de queda, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador do investimento no país subiu 5,2%. Com esse resultado, a taxa de investimento em relação ao PIB ficou em 15,1%, apresentando alta de 0,5%, após alcançar, em 2017, seu menor nível desde 1995.

 

A agropecuária cresceu 1,3%; a indústria, 0,7%, e o setor serviços, 2,1%. O consumo das famílias avançou 2,3% enquanto o consumo do governo teve alta maior, de 4,9% em termos nominais. A construção, que mantém desde 2014 uma série de resultados negativos, recuou 3%. Foi o único grupo de atividades com queda em volume em 2018, segundo o IBGE.

 

 

Veja o quadro com os principais dados revisados do PIB de 2018:

 

 

Principais indicadores 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
PIB (variação %) 7,5 4,0 1,9 3,0 0,5 -3,5 -3,3 1,3 1,8
PIB (R$ bilhões) 3.886 4.376 4.815 5.332 5.779 5.996 6.269 6.585 7.004
PIB per capita (R$) 19.939 22.260 24.278 26.658 28.649 29.467 30.559 31.844 33.594
Despesa de consumo final (variação %) 5,7 4,2 3,2 3,0 1,9 -2,8 -2,9 1,3 2,0
FBCF (variação percentual em volume) 17,9 6,8 0,8 5,8 -4,2 -13,9 -12,1 -2,6 5,2
Taxa de investimento – FBCF/PIB (%) 20,5 20,6 20,7 20,9 19,9 17,8 15,5 14,6 15,1
Remuneração dos empregados/PIB (%) 41,6 42,2 42,8 43,2 43,5 44,6 44,7 44,3 43,6
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais.