CBPILU040820132683dragão Crédito: Cristiano Gomes/CB/D.A Press

Federal Reserve, Banco Central do Brasil e expectativas de inflação

Publicado em Economia

VITÓRIA SADDI, sócia da SM Futures

No mercado financeiro, todo preço conta uma história sobre o que os investidores implicitamente estão achando sobre o futuro e as suas probabilidades.

 

Nos Estados Unidos, a inflação implícita (ou breakeven inflation) é medida como a diferença dos títulos do Tesouro e o TIPS, título indexado à inflação. No Brasil, a medida análoga é divulgada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e mede a inflação implícita como a diferença entre as Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F) e as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B). A inflação implícita reflete as expectativas inflacionárias das pessoas.

 

Seja devido à guerra na Ucrânia, seja por causa da alta dos preços das commodities e do final da pandemia de covid, os dois países registraram forte subida nas expectativas de inflação para 2022. Nos EUA, conforme a CME, a inflação implícita deve chegar a 7% em 2022. Em igual período, no Brasil, a Anbima estima que a mesma métrica de inflação deve atingir 8%.

 

O impacto será percebido pelo mercado quando ambos bancos centrais — Federal Reserve (Fed) e Banco Central brasileiro — subirem suas taxas básicas de juros nesta semana. Ou seja, nos dois países, a alta da inflação foi abrupta e inesperada, e a única forma de combatê-la é aumentando as taxas de juros curtas (ou básicas). Para os EUA, espera-se que o Fomc eleve a taxa de Fed funds de 0,25% para 0,5% ou 0,75% ao ano. No Brasil, a expectativa é de que o BC suba a taxa Selic para 12,75%, uma alta de um ponto percentual.

 

Nos Estados Unidos, a expectativa para 2023 é de brutal queda da inflação implícita para 3%, enquanto, no Brasil, as expectativas inflacionárias devem cair apenas um pouco (de 8% para 6,30%, segundo a Anbima).
A curva de juros resultante da diferença entre títulos do Tesouro e TIPS (ou de NTN-F e NTN-B) ilustra o comportamento das expectativas inflacionárias (ou inflação implícita) ao longo do tempo.

 

Para os EUA, percebemos que as expectativas de inflação de 2023 em diante serão reduzidas, devendo atingir um máximo de 3% em 2030. Já, no Brasil, as estimativas de inflação são de cerca de 7% para 2023 e  por volta de 6,5% até 2030, segundo a Anbima.

 

As expectativas de inflação elevadas nos EUA são de curto prazo. Em 10 anos, o mercado espera uma volta às taxas normais, com a inflação retornando para cerca de 2%. No Brasil, as projeções inflacionárias são persistentes. As razões para a presença das elevadas estimativas estão mais relacionadas às condições institucionais do país do que com o número de altas de juros que o Banco Central promoverá em 2022.

 

Afora aspectos relacionados à maior credibilidade do Fed em comparação ao BC brasileiro, temos algo típico de países que viveram por muito tempo com inflação de dois dígitos: a tecnologia inflacionária. O aspecto que procuramos enfatizar neste texto é que a convergência das expectativas inflacionárias (medida pela inflação implícita) é muito mais rápida nos EUA do que no Brasil.

 

Enquanto, aqui, a sociedade sabe se proteger (quase perfeitamente) de altas de preços, isto inexiste com tanta perfeição nos EUA. A maior velocidade de convergência das expectativas inflacionárias americanas para a meta é o resultado deste processo.

 

Brasília, 20h21min