Em Portugal, candidatos da esquerda e da direita ignoram debate sobre xenofobia

Publicado em Economia

Com os grupos anti-imigração ganhando corpo em território luso, a Associação Brasil Portugal 200 anos convidou os candidatos a primeiro-ministro dos dois partidos mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de votos para um debate sobre xenofobia — um da esquerda, outro, do centro-direita.

 

Apesar de os primeiros convites terem sido enviados a Pedro Nuno Santos, do Partido Socialista (PS), e a Luís Montenegro, do Partido Social Democrata (PSD) no dia 23 de dezembro, e reforçados posteriormente, nenhum dos dois, até agora, respondeu à associação. Foi sugerido aos políticos um dia da semana entre 15 e 19 de janeiro.

 

Os brasileiros são as maiores vítimas de xenofobia em Portugal. A frequência dos ataques, que saíram das palavras para a agressão física, tem incomodado o governo do Brasil. Há, em Brasília, a percepção de que nada está sendo feito pelas autoridades para conter a violência contra cidadãos oriundos do Brasil.

 

Os últimos levantamentos da imigração portuguesa apontam que mais de 1 milhão de estrangeiros vivem legalmente em Portugal — cerca de 10% de toda a população do país. Desse contingente, mais de 400 mil são brasileiros, que, no ano passado, recolheram 669 milhões de euros (R$ 3,7 bilhões) aos cofres da Segurança Social, a Previdência lusitana.

 

Pesquisa divulgada pela Casa do Brasil em Lisboa dá a dimensão do tamanho da xenofobia dos portugueses em relação aos estrangeiros, sobretudo, os brasileiros. O levantamento aponta que 90,4% dos imigrantes já sofreram discriminação na hora de alugar ou comprar imóveis em Portugal. Um proprietário disse que não alugava imóvel a brasileiras, porque elas eram “putas”.

 

Debate mostra maturidade democrática   

 

Segundo o presidente da associação Brasil Portugal 200 anos, o empresário José Manuel Diogo, promover um debate sobre xenofobia tem um significado profundo. Para ele, a iniciativa da entidade é uma forma de destacar a competência e a maturidade democrática dos líderes políticos portugueses.

 

“É importância abordar temas difíceis como a xenofobia de maneira aberta e democrática, evidenciando o compromisso dos futuros líderes com a inclusão e o respeito à diversidade”, diz. Ele acrescenta que o debate serve para mostrar à comunidade brasileira e a outros estrangeiros residentes em Portugal que suas preocupações são levadas a sério e que podem confiar no processo democrático do país para abordar e resolver tais questões.

 

Dono do Cícero Bristô, parceiro da associação na organização do debate, Paulo Dalla Nora afirma que uma discussão séria sobre xenofobia com dois importantes líderes políticos permitirá explorar as oportunidades que existem na relação Brasil-Portugal, segundo ele, ainda muito aquém do que poderia ser do ponto de vista econômico.

 

“Grandes empresas brasileiras poderiam estar em Portugal e, a partir daí, entrarem na Europa. Por que não estão? O que falta? É proteção de mercado? O debate precisa passar por aí. Não existe dúvidas que mais integração econômica gera, se feita com os cuidados devidos, ganhos para todas as partes”, frisa Dalla Nora, um ex-banqueiro.

 

Para o executivo, o diálogo ajuda a mapear, entender e pensar em ações para mitigar resistências. “É fato que Portugal precisa de imigração, não só de gente, mas de capital. Apenas com capital interno, o país ficará para trás em setores muito relevantes”, assinala. “Não se pode fingir que o país vai trancar a imigração, pois os investimentos não virão. As duas coisas estão ligadas”, emenda.

 

Ultra direita surfa contra a imigração

 

Enquanto a esquerda e o centro-direita se calam sobre a xenofobia, representantes da ultradireita, liderada pelo Chega, de André Ventura, difundem um discurso potente contra a imigração. Um dos argumentos usados pelos radicais é o de que os imigrantes querem acabar com os brancos europeus por meio da miscigenação, além de roubarem os empregos dos portugueses.

 

Na última terça-feira (09/01), o líder do governo do Brasil no Senado, Randolfe Rodrigues, se manifestou nas redes sociais sobre a importância do debate entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro. Ele escreveu, marcando os dois políticos, que “os brasileiros representam a maior comunidade de imigrantes em Portugal. Por isso, é importante acompanharmos as eleições no país e como os líderes políticos propõem lidar com a xenofobia contra brasileiros. Todo o nosso apoio ao debate sobre o assunto”.

 

O Blog entrou em contato com assessores dos dois políticos portugueses, mas não recebeu nenhum retorno até a publicação desta nota. O Blog continua aberto à qualquer manifestação.