A euforia demonstrada pelo governo em relação ao crescimento econômico já não contamina mais os economistas do setor privado. Diante dos sinais evidentes de fragilidade da atividade, muitos passaram a prever que, na melhor das hipóteses, o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano crescerá 2%. Essa estimativa está virando teto.
Para os especialistas, o consumo das famílias perdeu força, depois do impacto da liberação dos saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), e a indústria voltou a titubear (fechou 2019 com queda de 1,1%). As encomendas do comércio desabaram nos últimos dois meses.
Além disso, os investidores, sobretudo os estrangeiros, estão desanimados com os rumos do governo. Ainda que a equipe econômica esteja tentando levar adiante projetos importantes de reformas estruturais, o presidente Jair Bolsonaro não desperta confiança suficiente para estimular o aumento do parque produtivo.
Na avaliação dos economistas, com os juros nos atuais patamares, de 4,5% ao ano (podendo baixar para 4,25% ou para 4% nesta quarta-feira, 5 de janeiro), era para a economia estar deslanchando, mas o empresariado não comprou a versão de que, desta vez, o país dará saltos expressivos.
Impacto do coronavírus
Para piorar, o Brasil e o mundo foram atropelados pelo coronavírus, que parou a China. A situação é tão grave na segunda economia do planeta, que a capital do país, Pequim, está praticamente parada, parece uma cidade fantasma — 80% das lojas estão fechadas por causa do medo da contaminação. Esse quadro se repete em várias regiões da China.
Dois dos primeiros bancos a revisarem para baixo a previsão de crescimento do Brasil neste mês foram o suíço UBS e o francês BNP Paribas. Pelos cálculos do UBS, em vez de 2,5%, o Brasil avançará apenas 2,1%. Esse número ainda poderá ser revisto, caso a desaceleração da China seja maior do que o previsto. A China é o principal parceiro comercial do Brasil.
Nas contas do BNP Paribas, o risco é de o Brasil não crescer sequer os 2% que estava prevendo. Os preços das principais mercadorias exportadas pelo Brasil para a China estão em queda livre. E esse quadro não deve se reverter tão cedo, uma vez que não se sabe o impacto real do coronavírus no PIB chinês.
Não por acaso, os analistas dizem que o Banco Central rasgará a cartilha do conservadorismo e cortará a taxa básica de juros nesta quarta-feira (05/01) e poderá estender esse movimento pelos próximos meses, até o indicador cravar 3,75% ao ano. Se isso ocorrer, o Brasil correrá o risco de conviver com taxas de juros negativas, como em boa parte do mundo desenvolvido.
Brasília, 19h06min