A falta de confiança aumentou após o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, elevar a taxa básica da economia (Selic) pela primeira vez em seis anos, de 2% para 2,75% anuais, a curva de juros futuros, negociados nos contratos DI, está cada vez mais inclinada, ou seja, apontando juros cada vez mais altos — na contramão da expectativa da autoridade monetária ao sinalizar um processo de normalização gradual.
As projeções recentes já apontam a Selic encerrando o ano atingindo a taxa neutra, de 6% a 6,5% pelos analistas, o que será péssimo para a atividade econômica, porque ela deixará de ser estimulativa, e para o custo da dívida pública, que ficará bem maior. Esse aumento mostra que o mercado está desconfiado e vai cobrar bem caro quando o governo federal quiser fazer novas emissões ou rolagem da dívida atual que tem R$ 581 bilhões vencendo entre março e maio. Nesta quarta-feira (24/03), o Tesouro Nacional informou que o colchão de liquidez é suficiente para seis meses, mas não será fácil rolar parte desses vencimentos com uma curva de juros tão inclinada.
“Pesou no mercado de juros futuros a decisão e o comunicado do Copom. Acho que o BC exagerou na dose ao colocar mais foco na inflação de 2021 do que na de 2022 e e está superestimando a atividade para este”, avaliou o economista Sergio Goldenstein, consultor independente da Ohmresearch Independent Insights, em entrevista ao Blog.
De acordo com ele, apesar de o Banco Central ter sinalizado que pretende elevar a Selic na próxima reunião do Copom em 0,75 ponto percentual (p.p.), prevista para os dias 4 e 5 de maio, as apostas do mercado já estão em 1,00 ponto. “A curva de juros futuros já mostra uma Selic de 6,5% em dezembro deste ano e de 9% no fim de 2022”, acrescentou.
A mediana das projeções do mercado para a Selic deste ano passou de 5,5% , na semana passada, para 6%, nesta semana, conforme dados do boletim Focus, do Banco Central. E, para 2022, a mediana ainda está em 6% há 21 semanas, mas poderá sofrer alterações no próximo relatório.