Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados/Rosana Hessel/DAPress

Crédito e juros tendem a piorar com aumento dos juros, alerta MB Associados

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

A sinalização do Banco Central de deixar a porta aberta para novos aumentos de juros – após elevar a taxa básica da economia (Selic), de 13,25% para 13,75% ao ano, na última quarta-feira (03/08) – põe uma interrogação sobre o futuro do mercado de crédito, de acordo com o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.

 

“Os sinais de desaceleração no crédito são prenúncio não só de queda na atividade, mas também de piora na inadimplência. Os dados do BC de crédito ainda estão atrasados por causa da greve e temos dados apenas até abril, mas já é possível vislumbrar o que está acontecendo nos principais indicadores de inadimplência neste momento e projeções à frente”, destacou o analista. Segundo ele, devido ao constante aumento dos juros, a inadimplência do cartão de crédito deve aumentar e chegar a uma piora importante nos próximos meses, podendo chegar a 8,4% em dezembro, patamar parecido com março de 2020. “Igualmente preocupante tem sido a inadimplência no crédito pessoal não consignado, que acelerou nos últimos meses e deve ficar acima de 6% até o final do ano”, afirmou.

 

Após a decisão do Copom, o analista elevou de 13,75% para 14% a previsão para a taxa Selic no fim deste ano e ainda destacou ainda que a inadimplência na aquisição de veı́culos, que está em 4,5%, rapidamente, deve chegar a 5%, “com riscos de revisão para cima dado o cenário ainda preocupante de renda e juros elevados”.  “Esse cenário da inadimplência engloba uma piora na economia geral que deve ocorrer como efeito rebote das diversas medidas de estilo pelas quais estamos passando em conjunção com a piora no quadro internacional. A alta de juros apenas agora começa a mostrar seus impactos e por causa do esforço de reeleição do governo, a queda pode ser mais grave do que seria esperado anteriormente”, acrescentou.

 

Na avaliação de Vale, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), de elevar a taxa Selic para 13,75%, era esperado, mas o BC não deixou claro se aumentará ou não os juros em setembro, mas sinalizou que a preocupação começa a ser 2024 e ela que dará o tom das próximas decisões”. O movimento do BC faz sentido dado que 2023 está muito contaminado por uma possível volta das desonerações feitas este ano”, complementou. Segundo ele, os dois candidatos à frente das pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PT), farão parte do ajuste fiscal no ano que vem e devem vir de aumento especialmente dos impostos federais e também do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). 

 

Sergio Vale lembrou que, como grande parte das desonerações nos impostos sobre combustíveis devem, a princípio, durar até o fim do ano, as expectativas de inflação de 2023 subiram em torno de 1,0 ponto percentual. Com isso, as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do ano que vem ficaram acima do teto da meta, de 4,75%. “Esse distanciamento contratado da meta de inflação coloca dificuldades para o BC atingi-la no em 2023 e, por isso, o BC acertadamente decidiu começar a focar em 2024”, destacou. Pelas projeções dele, daqui a dois anos, espera-se, a inflação terá diminuído sensivelmente os impactos dos diversos choques que estamos passando desde 2020 e que levaram o IPCA para além do teto da meta em 2021, neste ano.  

 

“O BC aposta que os impactos da pandemia e do ciclo eleitoral já tenham desaparecido e o BC terá uma inflação mais, digamos, tradicional para lidar. Claro que isso também dependerá do que será 2023, com riscos fiscais que estão presentes sem falar dos impactos do próprio resultado eleitoral. O Brasil do ano que vem pegará um cenário internacional mais difícil, que costuma nos impactar com mais força quando não estamos com a casa fiscal arrumada, como é o caso agora”, destacou. Segundo Vale, a chance de novas pressões no câmbio não é pequena e vai depender de uma política econômica muito equilibrada para que o mercado não aposte contra o governo e, por conta disso, o BC optou pelo conservadorismo, na avaliação dele.