Correio Econômico: Segurança e economia ditam a política

Publicado em Economia

O governo está apostando todas as fichas na intervenção federal no sistema de segurança do Rio de Janeiro, mas não tira os olhos da economia. Ainda que o combate à violência traga frutos políticos para o presidente Michel Temer, será a retomada mais forte da atividade que amplificará uma visão mais positiva do emedebista. Está se formando um consenso de que o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá além de 3% neste ano, resultando na criação de mais de 2 milhões de empregos. A taxa de desocupação voltará a ficar abaixo de 10%.

 

Pelos cálculos da economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, o Brasil abrirá, em 2018, aproximadamente 1 milhão de vagas formais — quase a metade do total de vagas criadas. Tal projeção indica uma melhora importante no mercado de trabalho. Em 2017, a maior parte dos postos abertos se deu na informalidade. Ou seja, foram criados empregos de baixa qualidade. Agora, com a economia ganhando tração e os empresários se sentindo mais confiantes em relação ao futuro, a tendência será de contratação com carteira assinada, o que beneficia trabalhadores mais qualificados.

 

Os empregos serão puxados, sobretudo, pela indústria e pela construção civil, que sofreram muito com a recessão. Alessandra destaca que, desde o fim de 2017, vem se percebendo uma virada do mercado de trabalho. As demissões em massa cessaram e, em vários segmentos, como o comércio, as contratações superaram o fechamento de vagas. Daqui por diante, a abertura de postos prevalecerá quase que mensalmente, um alívio para as famílias e para a Previdência Social, cuja arrecadação aumentará. Isso não quer dizer que ficaremos livres dos empregos de baixa qualidade. Infelizmente, ainda estamos longe disso.

 

A perspectiva é de que a economia crescerá independentemente do fim da reforma da Previdência. A credibilidade na condução da política econômica garante que, mesmo lentamente, os investimentos produtivos voltarão, dando suporte ao consumo das famílias, que foi vital para que o Brasil superasse dois anos de recessão. “Vamos ver o país crescendo nos próximos anos, mas não podemos esquecer que só voltaremos ao PIB de 2014 em 2022. Temos, portanto, um longo caminho a percorrer”, avisa. “A velocidade será maior se optarmos por eleger, em outubro próximo, um governo reformista”, acrescenta.

 

Concorrência abalada

 

O governo sabe que, com as possíveis turbulências provocadas pelas eleições, terá que evitar ao máximo os ruídos na economia para não atrapalhar o crescimento. Tudo está sendo milimetricamente pensado no Palácio do Planalto, pois uma atividade mais forte, com inflação e juros em baixa, amplia a sensação de bem-estar da população. Nesse contexto, os eleitores passam a ter um pouco mais de boa vontade com o governo e a ver com bons olhos o candidato apoiado pela máquina pública. Por isso, está cada vez mais claro o desejo de Temer de concorrer à reeleição.

 

Para a economista da Tendências, as chances eleitorais do presidente são mínimas, dado o histórico de baixíssima popularidade do governo. Mas nunca se pode esquecer que, num quadro econômico mais favorável, o pessimismo diminui. Como diz um aliado do emedebista, com mais dinheiro no bolso e a sensação de que a insegurança está diminuindo, o cidadão comum deixa de lado a implicância política e passa a pensar com a razão. Esse discurso vem sendo repetido diariamente pelos maiores incentivadores da candidatura de Temer, o secretário-geral da Presidência, Moreira Franco, e o marqueiro presidencial, Elsinho Moco.

 

Os dois, inclusive, destacam que, ao assumir a pauta da segurança pública e entregar a menor inflação e a menor taxa de juros em décadas, com perspectiva de retomada do emprego — Moreira aposta que a taxa de desemprego cairá para algo entre 8% e 9% até o fim do primeiro semestre do ano —, Temer abalou o discurso dos cinco candidatos presidenciais: Lula, Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles e Rodrigo Maia. Não por acaso, há uma gritaria em direção ao governo. Resta saber até onde Temer conseguirá chegar. Nunca economia e segurança pública andaram tão juntas numa campanha política.

 

Brasília, 06h36min