Correio Econômico: O saldo da confiança

Publicado em Economia

Mesmo que o Congresso não aprove a reforma da Previdência, a inflação não será problema em 2018. Por maior que seja o estresse, uma possível derrota do governo já foi, em parte, absorvida pelo mercado. E isso está claro nos atuais preços do dólar e na pontuação do Ibovespa, o principal índice de lucratividade da Bolsa de Valores de São Paulo. Pelos cálculos do economista-chefe da Quantitas Gestora de Recursos, Ivo Chermont, num quadro de normalidade, com a reforma aprovada, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrará o próximo ano em 3,8%. Sem as mudanças no regime de aposentadoria, ainda que o dólar suba para R$ 3,60, o custo de vida ficará em 4,3%, uma taxa confortável.

 

Chermont ressalta que a inflação está tão comportada que os rumos da reforma da Previdência não serão determinantes para a decisão do Banco Central de continuar cortando os juros. A taxa básica (Selic), que está em 7%, o menor nível da história, recuará para 6,75% em fevereiro, na primeira reunião de 2018 do Comitê de Política Monetária (Copom), mantendo-se nesse nível até o fim do ano. Os mais otimistas acreditam que a Selic cairá um pouco mais, para 6,50%, pois, no primeiro trimestre, o IPCA será muito baixo. Nem mesmo os custos com educação serão capazes de tirar o índice da rota.

 

“Ainda que a reforma da Previdência não seja aprovada, a inflação ficará sob controle em 2018. Na opinião de especialistas, preços dos alimentos serão determinantes para manter o IPCA abaixo de 4%”

 

Na avaliação de Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, apesar de não repetir o recorde de 2017, a safra agrícola continuará mantendo a inflação em níveis bem comportados. Pelos cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os preços dos alimentos registraram queda média de 2,4% entre janeiro e novembro, o maior recuo no período desde a edição do Plano Real, em 1994. “Nas nossas contas, a inflação de 2018 será de 3,8%. Dificilmente, haverá pressão dos alimentos sobre o IPCA”, diz.

 

Thaís ressalta ainda que, como o custo de vida deste ano será muito baixo — ela estima alta de apenas 2,8%, abaixo do piso da meta perseguida pelo Banco Central, de 3% —, o carregamento, ou inércia, como falam os economistas, para 2018 será muito pequeno. Uma folga e tanto para a política monetária. “Os contratos reajustados pela inflação passada terão aumento muito pequeno. Não vão pressionar o IPCA”, acrescenta. “Também não vejo o dólar impactando a inflação para cima. Na verdade, se a moeda americana interferir, será favoravelmente caso a reforma da Previdência seja aprovada”, ressalta.

 

Ajuda aos mais pobres

 

Tanto Thaís quanto Chermont destacam que os benefícios da inflação baixa para a retomada do crescimento econômico são inquestionáveis. Com os preços mais baixos, especialmente dos alimentos, as famílias retomaram o poder de compra. Não por acaso, o consumo dos lares foi o responsável pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) por três trimestres seguidos, o mais longo ciclo de expansão da atividade desde 2012. “A inflação sob controle favorece, sobretudo, os mais pobres. E isso se torna mais evidente quando os alimentos ficam mais baratos”, afirma a economista da Rosenberg.

 

A inflação sob controle é um ativo do qual o país nunca deve abrir mão. Quanto menor for o IPCA, melhor, pois o Banco Central pode manter os juros baixos por um longo período. Ao terem a confiança de que nem a inflação e nem os juros sairão em disparada, as famílias podem planejar seus orçamentos e assumir compromissos que caibam no bolso. Da mesma forma, as empresas podem tomar empréstimos para ampliar a produção, já que terão a certeza da venda de seus produtos. Consumo e produção movimentam a máquina, estimulam a criação de empregos e permitem uma melhor distribuição de renda.

 

Pena que nem todos os governantes tenham a convicção da importância da estabilidade econômica. Isso ficou muito claro no governo de Dilma Rousseff, que partiu para experimentalismos. Com a nova matriz econômica, ela trouxe de volta a inflação, o desemprego e a recessão. Não faltaram avisos à petista, mas a soberba prevaleceu, resultando em uma fatura que levará anos para ser quitada. Que o mau exemplo dado por Dilma sirva de lição. O país não pode errar de novo ao eleger, em 2018, um político populista, que prega saída fáceis.

 

Brasília, 06h21min