Correio Econômico: Estrelas apagadas

Publicado em Economia

ANTONIO TEMÓTEO

A equipe econômica, conhecida até bem pouco tempo, como time de estrelas, passa pelo maior teste de credibilidade. Após o fim da greve dos caminhoneiros, que teve como desfecho um programa de subsídio ao preço do diesel, que custará R$ 13,5 bilhões, os remanescentes no Ministério da Fazenda e do Planejamento após a saída do Henrique Meirelles e de Dyogo Oliveira são torpedeados diariamente.

 

O principal sinal de fraqueza de Eduardo Guardia e Esteves Colnago foi a falta de protagonismo no debate. A ala política do governo atropelou os técnicos, e as pressões do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do presidente do Senado Federal, Eunício Oliveira (MDB-CE), deixaram os dois sem qualquer poder de interferência nas decisões tomadas. Restaram a eles fazer contas e cortar o orçamento para acomodar a despesa com o subsídio ao preço do diesel.

 

E os problemas não param por aí. Em meio à grave crise financeira e às propostas para que os reajustes nos salários dos servidores sejam adiados, na Fazenda e no Planejamento, os supersalários são uma realidade. O ministro do Planejamento, Esteves Colnago, recebe remuneração mensal de R$ 35.694,49. O abate-teto incide sobre esse valor, mas o contracheque dele é engordado em R$ 8.091,93 por presidir o conselho de administração do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e em mais R$ 5.440,36 por ser membro do conselho da Eletrobras.

 

O caso mais assombroso é do secretário executivo do Planejamento, Gleisson Rubin. Além do salário mensal de R$ 35.613,93, ele quase dobra os rendimentos com jetons. Da Agência Especial de Financiamento Industrial (Finame), recebe a bagatela de R$ 24.275,79. E não para por aí. Outros R$ 3.376,30 são pagos ao servidor público de carreira pelo Hospital das Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Com esse salário, Rubin desfila por Brasília em um Volvo XC-60, carro, zero quilômetro, custa mais de R$ 200 mil.

 

Rombo

 

Na Fazenda, a secretaria executiva, Ana Paula Vescovi, também garante mensalmente um salário de R$ 35.474,74 e um jeton de R$ 4.891. A gestão de Ana Paula na Caixa planeja acabar com a prerrogativa de só empregados concursados ocuparem as diretorias Executivas e Jurídica e o posto de auditor-chefe do banco. A medida está em debate. Para se tornar realidade, é necessário alterar o estatuto da instituição financeira. Atualmente, somente a presidência e as vice-presidências podem ser ocupadas por pessoas sem vínculo empregatício com a estatal.

 

Vale lembrar que, enquanto esteve na Fazenda, Meirelles não ocupou vaga em nenhum conselho. Dyogo Oliveira abriu mão dos assentos que ocupava para ter credibilidade de cobrar o fim dos supersalários. Meirelles deixou o posto para tentar comandar o Palácio do Planalto em 2019, e Oliveira, pelo salário de mais de R$ 85 mil na presidência do BNDES.

 

No mercado, os analistas são unânimes em avaliar que a gestão da equipe econômica se limitará a tapar os buracos orçamentários para o cumprimento de uma meta que prevê rombo de até R$ 159 bilhões. “Infelizmente, o governo acabou e a equipe econômica, com exceção de Ilan Goldfajn no Banco Central, está encurralada”, alertou um banqueiro.

 

Brasília, 06h22min