Correio Econômico: Congresso e Justiça jogam contra o país

Publicado em Economia

Em meio a tantas incertezas na economia e na política, o Banco Central e o Tesouro Nacional se anteciparam em avisar os investidores que estão prontos para conter qualquer movimento atípico do mercado na próxima semana. A determinação é reduzir ao máximo a volatilidade que vem causando prejuízos aos poupadores, sobretudo os de classe média, grandes financiadores da dívida pública por meio de fundos de investimentos.

 

Ao mesmo tempo em que informou que venderá, na segunda-feira, US$ 3 bilhões com compromisso de recompra (leilão de linha), o BC destacou que fará uma oferta de títulos que estão em sua carteira como forma de auxiliar o Tesouro na tarefa de equilibrar o mercado de dívida. O valor dos papéis emitidos pelo governo está despencando, reduzindo o patrimônio de quem tem dinheiro aplicado, inclusive em fundos de previdência. Muita gente está assustada.

 

A percepção dentro do governo é de que o nervosismo entre os investidores está longe de acabar. Ainda que a pressão em cima do Banco Central para aumentar os juros tenha diminuído, depois da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que manteve a taxa Selic em 6,50% ao ano, a desconfiança continua latente. Do ponto de vista doméstico, há um mar de dúvidas sobre as eleições que se aproximam. Não há, até, agora, nenhum candidato com um projeto consistente de governo para tirar o país do atoleiro em que se encontra.

 

A força dos lobbies

 

A inflação voltou a dar as caras, o dólar continua apontando para cima a despeito das intervenções do BC no mercado de câmbio (a oferta de contratos de swap vai continuar) e a atividade econômica perde força. Um cenário com que poucos contavam no início do ano, quando o otimismo sustentava previsões de crescimento de 3% ou mais do Produto Interno Bruto (PIB). No Congresso, todas as medidas aprovadas recentemente agravam o quadro fiscal, explicitando a incapacidade do governo de conter os lobbies.

 

Na verdade, a porta para esses projetos foi aberta pelo Palácio do Planalto, ao ceder, de forma equivocada, aos pleitos dos caminhoneiros, que pararam o país. Todos perceberam que bastava uma boa articulação no Congresso ou falar um pouco mais alto para espetar uma fatura no caixa do Tesouro Nacional. Esse mesmo movimento foi percebido no Tribunal Superior do Trabalho (TST), que impôs duas grandes derrotas aos cofres públicos. Primeiro, ao dar ganho de causa a um pequeno grupo de funcionários do Serpro cedidos ao Ministério da Fazenda. A conta será de R$ 263 milhões, sendo que alguns deles receberão, cada um, cerca de R$ 20 milhões. Segundo, ao sancionar pedido de empregados da Petrobras, que cobram indenizações que podem chegar a R$ 17 bilhões.

 

Como diz um aliado do presidente Michel Temer, “se já estava ruim, ficará pior ainda”. Para ele, as corporações se sentiram no direito de crescer e exigir benesses incompatíveis com a realidade do país, que luta para voltar a crescer e reduzir o desemprego. “São sempre os mesmos grupos que enfiam a faca no Tesouro. Isso só agrava as desigualdades do país. Infelizmente, o governo, com sua popularidade próxima de zero, perdeu a incapacidade de dialogar. Ninguém mais ouve o que sai do Planalto”, afirma. Cientes disso, os investidores não economizarão na disposição para tumultuar ainda mais o ambiente.

 

Risco muito alto

 

Na avaliação dos donos do dinheiro, há pelo menos uma boa notícia para celebrar: o arquivamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do processo que poderia libertar o ex-presidente Lula da cadeia. O ministro Edson Fachin considerou prejudicado o recurso em que o petista questionava o mérito de sua condenação. A decisão de Fachin foi tomada depois de o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) negar a admissibilidade ao recurso no qual Lula pretendia questionar sua condenação no STF. O julgamento estava marcado para terça-feira.

 

Para os investidores, a soltura de Lula tumultuaria ainda mais o quadro eleitoral, já que, mesmo proibido de disputar a Presidência da República por causa da Lei da Ficha Limpa, poderia fazer campanha, a ponto de eleger um candidato de esquerda não comprometido com as reformas de que o Brasil tanto precisa, como a da Previdência Social. Um executivo de um dos maiores bancos do país resumiu o sentimento do mercado: “Fachin tirou qualquer chance de a 2ª Turma do STF de cometer uma grande loucura. Esse risco era muito alto”.

 

Brasília, 06h39min