Correio Econômico: BC em busca do consenso

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ANTONIO TEMÓTEO

Diante das sucessivas surpresas positivas da inflação e da lenta recuperação da economia, o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, busca consenso dentro da equipe para que o corte da taxa básica de juros (Selic) na próxima semana seja uma decisão unânime. Atualmente, a Selic está em 6,75% ao ano e o mercado aposta em mais uma redução de 0,25 ponto percentual. Desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ficou claro que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve permanecer mais próximo dos 3% do que dos 4,2% estimados pelo colegiado.

As projeções do BC no último Relatório Trimestral de Inflação (RTI) eram de que o IPCA de janeiro teria alta de 0,53% e o de fevereiro, de 0,47%. Entretanto, os resultado apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foram de 0,29% e de 0,32%, respectivamente. Para março, a mediana das expectativas apresentada pelo boletim Focus é de 0,22%. Há quatro semanas, a previsão era de 0,31%.

As últimas projeções do BC mostram que não estava no radar que a inflação continuaria tão baixa e que a recuperação da economia permanecesse lenta. Por isso, o esforço de Ilan Goldfajn em construir um acordo para que a redução de juros seja unânime.

No último encontro do Copom, parte dos diretores queria sinalizar mais fortemente a possível interrupção do ciclo de flexibilização monetária e manter a liberdade de ação em menor grau. Outros desejavam manter elevado grau de liberdade. Mesmo que se furtem a fazer qualquer comentário sobre o processo eleitoral, Ilan e os diretores do BC sabem que as eleições podem trazer volatilidade à economia. E, caso o ambiente internacional piore, será preciso subir a Selic para conter uma fuga de capitais.

O BC se vê em uma encruzilhada. Deixou a porta aberta para mais uma queda de juros caso as surpresas inflacionárias se materializassem. E isso, de fato, ocorreu. Entretanto, Ilan não quer ver o trabalho manchado se reduzir a Selic e ser obrigado a subir a taxa antes do esperado diante de fatores fora de seu controle. “As condições para o corte estão dadas, mas o banqueiro central pode ser mais cauteloso para evitar erros na condução da política monetária”, diz um ex-diretor do BC.

Apostas

Nas contas do economista Elson Teles, do Itaú Unibanco, o IPCA de março deve subir 0,15%, com a taxa em 12 meses recuando para 2,7%. “A queda da inflação em relação ao apurado no mês anterior será determinada pelo esvaziamento das altas de preços dos grupos educação e transportes. Por outro lado, para o grupo alimentação e bebidas, prevemos alta moderada em março, após a queda de 0,3% no mês anterior”, avalia. Para 2018, a projeção de Teles para a inflação se mantém em 3,5%. O banco espera um corte de juros de 0,25 ponto percentual na próxima semana, o que levaria a Selic para 6,5% ao ano.

Outra a alterar a perspectiva para a Selic foi a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Marzola Zara. Nas contas dela, os juros serão reduzidos para 6,5% ao ano, já que os preços de alimentos e de serviços têm dado trégua, favorecendo a redução da taxa. “Assim, nossa expectativa é de que o IPCA varie 3,5% em 2018, o que deve acarretar inércia também benigna para o ano de 2019, colocando um viés de baixa sobre nossa projeção de 4,2%”, afirma.

Na opinião do diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, a inflação deve subir 3,5% neste ano. Ele explica que o comportamento recente do IPCA tem surpreendido, com descompressão intensa em serviços e com resultados melhores de alimentação. “Assim, revisamos para baixo nosso cenário do IPCA deste ano, de uma alta de 3,9% para outra de 3,5%. As sucessivas surpresas baixistas, que refletem o elevado nível de ociosidade e a gradual recuperação da atividade, justificam a nossa perspectiva de novo corte de juros na próxima reunião do Copom, para 6,5%”, comenta.

Brasília,

Vicente Nunes