Coronavírus pegou o Brasil de calças curtas

Publicado em Economia

A rápida disseminação do novo coronavírus pegou o Brasil de calças curtas. Apesar de todo o voto de confiança que o mercado financeiro deu ao governo de Jair Bolsonaro, está se vendo agora que pouca coisa avançou no país desde o início do ano passado.

 

É verdade que o Congresso aprovou a reforma da Previdência, um vitória para o governo, mas, desde então, em vez de melhorar, a economia começou a desacelerar. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que, com os ajustes no sistema previdenciário, o Brasil receberia investimentos superiores a R$ 300 bilhões. Estamos vendo, porém, fuga de recursos do país.

 

A fragilidade do Brasil tem suas razões. Além da reforma da Previdência, o governo não encaminhou quase nenhum outro projeto pela o Congresso. Sim, encaminhou três Propostas de Emenda à Constituição (PECs) ao Senado, entre elas, a Emergencial, mas não demonstrou nenhum empenho para aprová-las.

 

Descaso

 

O descaso do governo na relação com o Congresso, por sinal, é explícito. Tanto que, já com o coronavírus fazendo um estrago enorme, o governo foi derrotado em votação que derrubou o veto de Bolsonaro a mudanças nas regras do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que custará R$ 20 bilhões por ano aos cofres públicos, segundo a equipe econômica.

 

Mais: o prometido ajuste fiscal não aconteceu até agora. O rombo continua enorme e só caiu em 2019 porque o Tesouro Nacional embolsou uma bolada com o leilão de petróleo. Vale lembrar que Paulo Guedes dizia que zeraria o buraco nas contas em um ano.

 

Outro ponto relevante: tudo o que o governo diz que fez de bom, como privatizações e concessões, foi preparado na gestão de Michel Temer. Nada, absolutamente nada, foi apresentado pela equipe de Bolsonaro.

 

Besteiras

 

Também está se vendo a equipe econômica inerte. Paulo Guedes foi premonitório quando disse, recentemente, que o dólar só chegaria aos R$ 5 “se o governo fizesse muita besteira”. Pois bem, o dólar passou de R$ 5 nesta quinta-feira (12/03). E a Bolsa de Valores de São Paulo já suspendeu os negócios por duas vezes.

 

Esse quadro pode espantar muita gente, mas quem acompanha o dia a dia do governo não se surpreende com nada, pois, em vez de focar no que realmente era importante para o Brasil, o governo Bolsonaro se concentrou na agenda de costumes e se especializou em criar polêmicas para manter ativa sua claque nas redes sociais. A última dele foi convocar uma manifestação contra o Congresso e o Judiciário para 15 de março.

 

O presidente, inclusive, desdenhou do potencial do novo coronavírus, alegando que a imprensa estava supervalorizando o assunto. Pois bem: o chefe da Comunicação do Palácio do Planalto, Fábio Wajngarten, testou positivo para a Covid-19. E Bolsonaro já se submeteu a um exame para ver se também está com o vírus.

 

Infelizmente, uma hora, a realidade se impõe. E, no Brasil, ela está chegando da forma mais terrível possível: o de uma pandemia que faz estrago no mundo todo.

 

Brasília, 11h43min