A confiança entre os empresários do varejo melhorou, mas está longe de indicar uma forte recuperação do setor. A destruição do poder de compra das famílias foi tão forte, que, mesmo com a inflação mensal caindo para níveis mais civilizados, não há como pensar em aumento do consumo a ponto de reverter tão cedo os péssimos números acumulados neste ano. A melhora, se vier, será sentida a partir do primeiro trimestre de 2017.
O quadro do varejo é dramático. Dados elaborados pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), com base na Relação Anual de Informações Sociais (Rais), mostram que a queda na demanda das famílias foi tão forte, que afetou o perfil do emprego no setor. Sem clientes, em 2015, pela primeira vez, ao longo de 23 anos, o varejo teve que fechar vagas: 172 mil. A perspectiva é de que, na melhor das hipóteses, esses postos só sejam recuperados daqui a cinco anos, mesmo assim, se a atividade recuperar o fôlego, se a inflação permanecer no centro da meta, de 4,5%, e se os juros caírem.
Pelo retrato traçado pela CNC, dentro do varejo, foi o segmento de vendas de equipamentos de informática e comunicação o que mais demitiu em números absolutos: foram 62,8 mil pessoas. A seguir, apareceram o comércio de veículos, com perda de 30,5 mil vagas, e o ramo de manutenção e reparação de motocicletas, com fechamento de 5,1 mil vagas. A destruição de empregos no varejo foi disseminada. Das 27 unidades da federação, em somente seis — Ceará, Tocantins, Amazonas, Roraima, Maranhão e Piauí — registrou-se saldo positivo, ainda assim, abrindo apenas 5,8 mil oportunidades.
As demissões foram comandadas por varejistas de médio e grande portes, que empregam 50 pessoas ou mais. Fecharam 103,5 mil vagas. Os jovens sentiram mais o peso da recessão econômica. No ano passado, 91,4% (157,6 mil) dos trabalhadores mandados embora tinham até 24 anos de idade. Assim, a participação desse grupo etário no total de empregados do comércio caiu de 36,7% para 27,9%. Parte desses jovens foi substituída por pessoas com 50 anos ou mais. Para esse contingente, abriram-se 27,8 mil vagas.
Renda minguada
A CNC mostra que, além da perda de empregos, o comércio reduziu muito os salários. Dos que continuaram trabalhando, 89,7% receberam, em 2015, entre um e três salários mínimos por mês, o maior índice em 13 anos. Os lojistas demitiram, principalmente, funcionários com renda entre cinco e 20 salários. Foi a forma que encontraram para reduzir mais rapidamente os custos e evitar o fechamento das portas. A qualificação dos que ficaram, contudo, desabou.
Os lojistas sabem que a recomposição do setor será muito lenta. Eles acreditam que tudo dependerá de como o governo tocará a economia. O impeachment de Dilma Rousseff trouxe um alento importante, mas a expectativa inicial de uma mudança rápida com a posse de Michel Temer não se confirmou. Os constantes recuos do presidente em decisões importantes minaram o ânimo de parte do empresariado. Não que eles tenham perdido a confiança no peemedebista. A visão é de que o Palácio do Planalto levará um tempo maior para aprovar o ajuste fiscal e sedimentar o caminho para o crescimento.
Os lojistas dizem que, se o governo conseguir o aval do Congresso para a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o aumento de gastos públicos à inflação do ano anterior, com certeza, o horizonte ficará menos nebuloso, sobretudo, porque permitirá ao Banco Central estender o prazo de corte da taxa básica de juros (Selic), que deve começar em outubro. No entender dos empresários, somente a indicação do BC no sentido de reduzir o custo do dinheiro já será importante para evitar um fim de ano desastroso para o varejo. As vendas devem cair em relação ao ano passado, mas num ritmo bem menor do que se imaginava quatro meses atrás, com Dilma no comando do país.
Brasília, 06h30min