Coluna no Correio: Bancos públicos socializam prejuízos

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Os governos petistas de Lula e de Dilma Rousseff não economizaram na escolha de maus negócios para enterrar o dinheiro dos bancos públicos — melhor, dos contribuintes — por meio de empréstimos. Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) encabeçam a lista de credores de três das maiores recuperações judiciais da história do país: a da Oi, a da Sete Brasil e a da OSX, de Eike Batista. Os financiamentos, dados como perdidos por parte dos especialistas, foram decididos mais por questões políticas do que técnicas.

 

Somente com a Oi, BB, Caixa e BNDES podem perder quase R$ 12 bilhões. Com a Sete Brasil, os prejuízos de BB e Caixa passam de R$ 5 bilhões. No caso da OSX, Caixa e BNDES deixaram de receber pelo menos R$ 1 bilhão e o BB, cerca de R$ 300 milhões. Não por acaso, as instituições são vistas com desconfiança e, muito provavelmente, Caixa e Banco do Brasil terão que receber injeção de capital por parte do Tesouro a partir de 2017, ainda que seus gestores digam que tal socorro não será necessário. BB e Caixa haviam lançado, até o fim de 2015, R$ 73,1 bilhões como provisões para crédito de difícil recuperação.

 

Dentro dos bancos públicos, a justificativa é a de que, no momento em que os empréstimos foram concedidos às empresas que, agora, estão em concordata, os negócios se mostravam promissores. A Oi estava se beneficiando do forte crescimento do mercado de telefonia celular, a Sete Brasil tinha contratos bilionários para fornecer sondas de exploração de petróleo à Petrobras e a OSX pulsava com todos os negócios de Eike. Portanto, dizem técnicos da instituição, os riscos de prejuízos eram pequenos. Eles reconhecem, porém, que o interesse do Palácio do Planalto nessas operações era enorme. A equivocada política de campeões nacionais estava a todo vapor.

 

Irresponsabilidade

 

O tamanho da desconfiança dos investidores em relação ao Banco do Brasil pode ser medido pelo comportamento de suas ações ontem na bolsa de valores. Os papéis da instituição, com baixa de 4,46%, lideraram as perdas dentro do Ibovespa, principal índice de lucratividade do pregão paulista. Sozinho, o BB tem a receber R$ 5,9 bilhões da Oi, mais do que o dobro dos créditos concedidos à empresa pela Caixa, de R$ 1,96 bilhão. Ao BNDES, a operadora deve R$ 3,34 bilhões.

 

Os bancos públicos não estão sozinhos nos negócios que se mostraram uma verdadeira furada. Bradesco, Itaú, BTG Pactual e Santander também empenharam bilhões de reais na Oi e na Sete Brasil, elevando o nível de estresse do mercado. Não se pode esquecer que a onda de quebradeira de grandes empresas pode continuar, já que as várias empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato enfrentam sérias dificuldades financeiras, a começar pela Odebrecht, que está tentando se desfazer de várias de suas operações para evitar o pedido de recuperação judicial. Mas não será fácil evitar essa medida drástica.

 

Diante desse quadro, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Mendes, buscou tranquilizar os investidores, garantindo que, apesar de todos os problemas, o sistema financeiro está sólido. O mesmo discurso foi difundido pelo presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal. É preciso, contudo, ficar atento. Instituições financeiras vivem de credibilidade. Não basta parecerem que estão bem. É preciso que todos acreditem nisso.

 

No caso dos bancos públicos, será preciso muito mais do que palavras para reverter o pessimismo. As instituições foram usadas pelos governos petistas em transações que desrespeitaram vários dos limites prudenciais. Os prejuízos computados com Oi, Sete Brasil e empresas de Eike Batista são apenas a parte visível dessas operações. Há muito mais por ser revelado. Em se tratando de instituições controladas pelo Tesouro, Lula e Dilma perderam o senso de responsabilidade.

 

Brasília, 05h29min