Crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press. Homem olha engrenagens com cifrão. Crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press. Homem olha engrenagens com cifrão.

Capital Economics prevê cenário turbulento para o Brasil até o fim do ano

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

Em meio das incertezas eleitorais no Brasil e da alta de juros recorde na Europa — com o Banco Central Europeu (BCE) pesando a mão no aperto monetário ao elevar a taxa básica pela segunda vez no ano, desta vez em 0,75 ponto percentual, para o maior patamar desde 1999 –, a consultoria britânica Capital Economics prevê muita turbulência para o mercado financeiro do Brasil, diante de um quadro de piora fiscal que, segundo ela, “está sendo subestimada pelos agentes financeiros”.

 

“Acreditamos que uma combinação de fatores internos e externos elevará os prêmios de risco no Brasil no restante deste ano. Nossas previsões são de que o real enfraquecerá e os títulos do país serão vendidos”, alertou um relatório enviado, nesta quinta-feira (8/9), aos clientes e assinado pelo economista James Reilly, prevendo que, até o fim do ano, o dólar ainda subirá mais e chegará a R$ 5,50 no fim do ano.

 

“Na frente externa, acreditamos que os bancos centrais de mercados desenvolvidos continuarão a priorizar o combate à inflação em detrimento da atividade de apoio, contribuindo para um azedamento ainda maior do apetite global por risco. Na nossa visão, os ativos de risco, em geral, terão dificuldades”, destacou o analista, no documento, em referência ao Brasil.

 

Na análise, Reilly destaca que a queda nos preços das commodities metálicas deverá pesar nos termos de troca do Brasil e pressionará o quadro fiscal. “O resultado é que esperamos que o sentimento dos investidores em relação aos mercados financeiros do Brasil azede no restante deste ano. Com isso, prevemos que o real se deprecie frente ao dólar dos R$ 5,2, atualmente, para R$ 5,5 até o fim de 2022”, resumiu.

 

“Os mercados financeiros do Brasil parecem ter se beneficiado da redução dos prêmios de risco até agora. O real esteve entre as moedas emergentes com melhor desempenho este ano, uma vez que o spread dos títulos soberanos em dólar do Brasil sobre os títulos do Tesouro Nacional diminuiu. E notamos aqui que o desempenho superior do mercado de ações do Brasil também parecia dever muito aos movimentos nos prêmios de risco. Mas os prêmios de risco, atualmente, parecem relativos às suas próprias histórias, e acreditamos que fatores internos e externos os impulsionarão ao longo do restante deste ano”, acrescentou.

 

Na avaliação de Reilly, “os investidores estão subestimando quão fraca é a situação fiscal do país”. Segundo ele, nenhum candidato para as eleições de outubro deverá tomar as medidas necessárias para enfrentar os problemas profundamente enraizados na economia brasileira.

 

“No geral, suspeitamos que uma vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da teria o maior impacto ascendente nos prêmios de risco – sua política econômica é, em nossa opinião, muito menos favorável aos investidores. Dito isso, dada sua liderança nas pesquisas, isso provavelmente já está pelo menos um pouco descontado nos mercados financeiros do Brasil”, acrescentou.

 

 

Tendência de juros elevados por mais tempo

 

O analista da Capital prevê que as expectativas dos investidores sobre as taxas de juros aumentem um pouco. Para ele, o Banco Central brasileiro encerrará seu ciclo de aperto na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), prevista para os dias 20 e 21 deste mês. Pelas projeções da consultoria, o colegiado aumentará a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,75% anuais, em mais 0,25 ponto percentual, para 14% ao ano. E, segundo Reilly, devido ao aumento dos prêmios de risco, as taxas de juros dos títulos públicos com vencimento em 10 anos, devem subir para 13% anuais.

 

“À primeira vista, isso seria um pouco de ruptura entre a relação usual entre a taxa Selic e o rendimento de 10 anos. Mas essa previsão, e mais fraqueza real, seriam consistentes com o que aconteceu no fim dos ciclos anteriores de aperto no Brasil, como em 2008, em 2011 e em 2015, que coincidiram com prêmios de risco crescentes (ou seja, a crise financeira global, uma desaceleração do crescimento de mercados emergentes e uma queda no preço do petróleo, respectivamente)”, destacou.