Banco Central reforça, em ata, redução do ritmo de corte dos juros

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ROSANA HESSEL

A ata do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, publicada nesta terça-feira (26/3), reforçou o comunicado da reunião do colegiado, nos dias 19 e 20 deste mês, a redução do ritmo de corte dos juros. Nos dois documentos, o Comitê retirou o “forward guidance” (sinalização futura) para as próximas reuniões, devido ao aumento das incertezas e sinalizado a redução do ritmo de corte dos juros. Na ata, o colegiado voltou a sinalizar a manutenção do ritmo de corte apenas o próximo Copom, em maio, no singular.

O documento de oito páginas — duas a mais do que o anterior, de janeiro –, ganhou cinco parágrafos, totalizando 29, e demonstrou maior preocupação com a disciplina fiscal e o zelo com as contas públicas. Não à toa, a palavra fiscal foi citada sete vezes– duas a mais do que na ata da primeira reunião do ano do Copom, quando o colegiado fez mais um corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica da economia (Selic), para 10,75% ao ano.

“O cenário mais incerto reduzia o benefício da sinalização futura e elevava seus custos. Tal avaliação levou o Comitê a comunicar que antecipava uma redução de mesma magnitude na próxima reunião, reforçando que a alteração na comunicação se dava por uma mudança na incerteza e não no cenário-base”, destacou o texto acrescentando que tal alteração “reflete tão somente uma análise de custo-benefício da utilização desse instrumento adicional de política monetária”.  Ao justificar essa mudança, o colegiado reforçou que “seria um equívoco interpretar a mudança na sinalização futura como uma indicação de alteração do ciclo de política monetária compatível com o cenário-base”.

E, com relação ao cenário fiscal, o Copom ressaltou novamente a importância da execução das metas fiscais “já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária”. “O Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”, frisou.

O Copom também demonstrou maior preocupação com o cenário externo, que vem se demonstrado mais volátil, “marcado pelos debates sobre o início do processo de flexibilização da política monetária nas principais economias e a velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países”. Além dos conflitos geopolíticos, “a velocidade da desinflação em um cenário de atividade forte e mercado de trabalho resiliente voltou a ser tema de grande debate”, de acordo com o documento.

Apesar de afirmar que o cenário-base “não se alterou substancialmente”, o Comitê ainda reforçou que avalia que essa é a condução apropriada para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.

Na avaliação do economista e consultor André Perfeito, ex-economista-chefe da Necton Investimentos, a ata confirmou que o Copom retirou a perspectiva de cortes continuados na taxa Selic de forma automática, ferramenta conhecida como o forward guidance.

“A diretoria do Banco Central acertou ao usar o instrumento, mas mesmo vendo que não há alteração ao cenário base da instituição achou por bem iniciar o fim do instrumento dado o aumento da volatilidade”, afirmou Perfeito. Ele manteve em 9,75% a previsão para a Selic no término do ciclo de afrouxamento monetário, iniciado em agosto de 2023.  “Isso implica dizer mais dois cortes de 50 pontos percentuais na taxa básica. Acreditamos que isso vai ancorar ainda mais as expectativas e satisfazer também a percepção do BCB que a taxa deve ficar no campo contracionista”, acrescentou.

O economista destacou trecho do parágrafo 24 no qual o colegiado que afirmou que “o Comitê percebe a necessidade de se manter uma política monetária ainda contracionista pelo horizonte relevante para que se consolide a convergência da inflação para a meta e a ancoragem das expectativas“.

Vicente Nunes