Banco Central decide manter taxa Selic em 6,5% ao ano

Publicado em Economia

HAMILTON FERRARI

Na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 2019, e possivelmente a última com o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, no comando, a autoridade monetária decidiu manter a taxa Selic em 6,5% ao ano. Os juros estão no mesmo patamar desde março de 2018, ou seja, oito reuniões consecutivas.

 

Segundo o comunicado do Banco Central, a decisão foi unânime entre os diretores.

 

O texto ressalta que a atividade econômica está em recuperação gradual. O cenário externo permanece desafiador, mas “com alguma redução e alteração do perfil de riscos”. “Por um lado, diminuíram os riscos de curto prazo associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas”, informou .

 

Na prática, a alta de juros em países desenvolvidos é ruim para o Brasil, porque há perda de atratividade para investimentos. “Por outro lado, aumentaram os riscos associados a uma desaceleração da economia global, em função de diversas incertezas, como as disputas comerciais e o Brexit”, comunicou o BC.

 

Inflação

 

Segundo a autoridade monetária, a inflação está em níveis apropriados e confortáveis. O Banco Central estima que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) termine o ano em 3,9%, abaixo do centro da meta, que é de 4,25%. Para os anos seguintes, estima taxas de 4% e 3,75% entre 2020 e 2021, respectivamente.

 

“Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela manutenção da taxa básica de juros em 6,50% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2019 e, com peso menor e gradualmente crescente, de 2020”, complementa a nota.

 

O texto também destaca a necessidade de fazer reformas e ajustes necessários na economia brasileira. “O Copom avalia que cautela, serenidade e perseverança nas decisões de política monetária, inclusive diante de cenários voláteis, têm sido úteis na perseguição de seu objetivo precípuo de manter a trajetória da inflação em direção às metas”, conclui.

 

Projeções

 

Analistas de mercado se divergem sobre a taxa que deve terminar este ano. Há economistas que apostam que a Selic caia a partir de setembro, chegando até 5,5% ao ano no fim de 2019. Nesse cenário, está prevista a aprovação de uma reforma da Previdência no Congresso Nacional que economize mais de R$ 800 bilhões em 10 anos.

 

As projeções divulgadas pelo Banco Central, via relatório Focus, mostra que o mercado trabalham com uma taxa Selic de 6,5% ao ano ao término de 2019. Ou seja, o Copom pode não alterar os juros neste ano.

 

Goldfajn pode se despedir do BC antes da próxima reunião, que ocorre entre os dias 19 e 20 de março. O ministro da Economia, Paulo Guedes, indicou o economista Roberto Campos Neto no último trimestre de 2018, mas, para assumir o cargo, ele ainda precisa ter o aval do Senado Federal. A data para a sabatina ainda não está prevista.

 

Confira a íntegra do comunicado do BC:

O Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 6,50% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

Indicadores recentes da atividade econômica continuam evidenciando recuperação gradual da economia brasileira;

O cenário externo permanece desafiador, mas com alguma redução e alteração do perfil de riscos. Por um lado, diminuíram os riscos de curto prazo associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas. Por outro lado, aumentaram os riscos associados a uma desaceleração da economia global, em função de diversas incertezas, como as disputas comerciais e o Brexit;

O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente se encontram em níveis apropriados ou confortáveis, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária;

As expectativas de inflação para 2019, 2020 e 2021 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,9%, 4,0% e 3,75%, respectivamente; e

No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,9% para 2019 e 3,8% para 2020. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2019 em 6,5% a.a. e se eleva a 8,00% a.a. em 2020. Também supõe trajetória para a taxa de câmbio que termina 2019 em R$/US$ 3,70 e 2020 em R$/US$ 3,75. No cenário com juros constantes a 6,50% a.a. e taxa de câmbio constante a R$/US$ 3,70*, as projeções situam-se em torno de 3,9% para 2019 e 4,0% para 2020.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções, mas com maior peso nos dois últimos riscos, portanto, com assimetria. Por um lado, (i) o nível de ociosidade elevado pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (ii) uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. Esse risco se intensifica no caso de (iii) deterioração do cenário externo para economias emergentes. O Comitê avalia que, desde o último Copom, especialmente quanto ao cenário externo, houve arrefecimento dos riscos inflacionários.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela manutenção da taxa básica de juros em 6,50% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2019 e, com peso menor e gradualmente crescente, de 2020.
O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.

O Comitê enfatiza que a continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.

Na avaliação do Copom, a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve manutenção da taxa Selic no nível vigente. O Copom ressalta que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.

O Copom avalia que cautela, serenidade e perseverança nas decisões de política monetária, inclusive diante de cenários voláteis, têm sido úteis na perseguição de seu objetivo precípuo de manter a trajetória da inflação em direção às metas.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Carlos Viana de Carvalho, Carolina de Assis Barros, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza, Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados na sexta-feira anterior à reunião do Copom.

 

Brasília, 18h23min