Um assunto tem dominado as rodas de conversa em Portugal, sobretudo, quando elas reúnem brasileiros e portugueses: o forte e crescente apoio de cidadãos oriundos do Brasil à extrema-direita. Na maioria das vezes, os portugueses se mostram horrorizados com esse suporte aos extremistas.
Dados do partido Chega, presidido pelo radical André Ventura, um ex-comentarista de futebol, apontam que nunca tantos brasileiros apoiaram a legenda como agora. As fichas de filiação à agremiação confirmam essa ligação, em especial, no norte de Portugal, onde a comunidade brasileira se mostra mais apegada a discursos da extrema-direita.
Não é de hoje que os brasileiros têm caminhado em direção ao Chega. Tudo começou em 2019, ano de fundação do partido. Naquela período, a atração dos brasileiros, principalmente os evangélicos, foi comandada pela portuguesa Lucinda Ribeiro, que montou mais de 100 grupos em redes sociais para difundir ideias xenófobas, racistas, misóginas, travestidas de conservadoras.
Em 2002, a rede bolsonarista que atua no mundo digital dedicou um bom tempo às eleições de Portugal para tocar a campanha do Chega, que saltou de um para 12 deputados na Assembleia da República. Com isso, a ultradireita passou a representar a terceira força da política portuguesa.
Erro ao desprezar força da extrema-direita
A meta do Chega neste ano é eleger entre 40 e 50 deputados, tornando-se peça central nas alianças que terão de ser feitas para a formação do futuro governo. Vice-presidente do Chega no Porto, o brasileiro Marcus Santos diz que o seu partido não só estará no grupo de comando do país europeu, como terá o controle de vários ministérios.
Levantamento do jornalista, escritor e pesquisador Miguel Carvalho, com base nos registros de filiação do Chega, aponta que o perfil dos brasileiros apoiadores da legenda é de classe média e alta. Eles têm dupla nacionalidade e vieram para Portugal para estudar e trabalhar. São formadores de opinião, com participação ativa em associações locais.
Apesar do horror que boa parte dos portugueses diz ter ante o apoio de brasileiros ao Chega, eles acreditam que não há a menor possibilidade de a legenda de extrema-direita chegar ao poder. Como diz o ex-ministro de Assuntos Parlamentares Miguel Relvas, em Portugal, não há extremos nem à direita nem à esquerda.
Os portugueses se esquecem que esse mesmo sentimento havia no Brasil no início das eleições de 2018, quando muitos consideravam a candidatura de Jair Bolsonaro inviável. Pois ele não só chegou ao Palácio do Planalto, como ajudou a enraizar, em parcela da população brasileira, o pensamento da ultradireita, que alimenta o ódio e a intolerância.
Pelo que se viu na mais recente convenção do Chega, em Viana do Castelo, onde brasileiros empunharam, sem vergonha, bandeiras da legenda, aqueles que ignorarem o avanço da ultradireita poderão ser surpreendidos muito em breve. Portugal terá eleições em 10 março. Quem conseguir formar maioria no Parlamento, governará o país. Até agora, as pesquisas não apontam um partido vencedor.