Um grupo de executivos do mercado financeiro anda assustado com o crescimento da xenofobia em Portugal, explicitada com a chegada em peso de brasileiros no país. “Até a elite branca está sofrendo”, dizem.
Segundo três desses executivos que ocuparam cargos de destaques na Faria Lima, o preconceito é tanto contra profissionais brasileiros da área de finanças, que praticamente ninguém consegue autorização do Banco de Portugal para exercer funções do alto escalão em instituições financeiras lusas.
“É assustador o que estamos vendo”, ressalta ao Blog um desses executivos. “Da mesma forma que estão nos recusando no mercado de trabalho, também estamos preocupados com nossas famílias, que podem ser discriminadas a qualquer momento, seja na rua, seja na escola e no supermercado”, acrescenta.
Outro executivo destaca que já está pensando em rever a sua decisão de morar em Portugal. “Fiz planos por um longo período. Mudei toda a minha vida do Brasil para o outro lado do Atlântico. Mas fica complicado conviver com discriminação, como se a nacionalidade estrangeira fosse algo desabonador, lhe diminuísse como pessoa”, complementa.
Socialite sofre com preconceito
O terceiro executivo afirma que está há dois anos em Portugal e, até hoje, nunca foi convidado para ir a casa de um português, mesmo já tendo recebido vários deles em sua residência em festinhas com amigos. “Não que eu queira ir a casa de um português, mas é muito estranho esse distanciamento que fazem questão de manter”, afirma.
Uma socialite de Brasília também sentiu na pele o que é discriminação. Ela contratou um agente em Portugal para encontrar um bom apartamento para a família dela em Lisboa. Seu objetivo era fazer parte do high society português. Ela fez de tudo para se enturmar, mas nunca conseguiu circular pela elite lusitana. Depois de tantas tentativas frustradas, retornou para o Brasil.
Os casos de xenofobia e racismos em Portugal tem crescido muito. O país registra, hoje, 400 mil brasileiros vivendo legalmente em seu território e mais de 150 mil à espera de regularização. Outros 200 mil têm dupla nacionalidade. Estima-se que, até 2028, 1 milhão de brasileiros estarão morando em território luso.
“Estamos falando, hoje, de quase 8% da população de Portugal. Isso mexe com os brios dos portugueses, sobretudo, daqueles que se sentem ameaçados no mercado de trabalho”, reforça um dos executivos. “E o que é mais evidente nesse processo é que Portugal não pode abrir mão dos estrangeiros, em especial dos brasileiros, pois há riscos de vários setores da economia entrarem em colapso.”