Severino Francisco
A Faculdade Dulcina de Moraes corre perigo. O sinal amarelo de alerta foi dado com a crise provocada pelo coronavírus. Se não for articulada uma grande corrente de solidariedade, a sobrevivência da instituição estará ameaçada.
O ator e diretor Fernando Guimarães conheceu Dulcina de Moraes de uma maneira fortuita, mas reveladora. Ele havia ido conversar com uma amiga na Faculdade Dulcina e se encontrou com atriz no elevador. Sem nenhuma formalidade, Dulcina desfechou a pergunta fulminante: “Você é ator?”. Fernando respondeu: “Não”.
Dulcina arregalou os olhos com espanto, como se Fernando fosse um ET marciano verde com um olho no meio da testa, e ordenou: “Pois, então, venha amanhã fazer um teste”. Para ela, ser ator era a coisa mais importante do mundo. Fernando aceitou, foi aprovado, fez carreira com o irmão Adriano Guimarães e o teatro passou a ser a sua casa.
Dulcina era uma mulher elétrica, carismática e magnetizadora. Todos que passaram por ela foram contaminados pela paixão do teatro. A lista é extensa e inclui Fernanda Montenegro, Nicete Bruno, Françoise Forton, entre outras. Liguei para Fernando porque queria saber mais detalhes sobre a situação da Faculdade Dulcina.
Ele é professor há mais de 20 anos na instituição. Foi aluno do último curso ministrado por Dulcina e tira da cartola muitos ensinamentos da mestra em suas aulas: “Dulcina vive na gente”. O semestre já havia começado quando a crise sanitária impediu as aulas presenciais. Os professores firmaram decisão de não entregar os pontos. Se desdobraram, passaram a ministrar aulas virtuais e conseguiram, bravamente, encerrar o período.
Tudo converge para a montagem de uma peça, a ser apresentada na Mostra Dulcina de Teatro, que, neste ano, chega a 31a edição, amanhã, em versão virtual. É o grande momento do curso. A média de público para as versões presenciais é 4 mil brasilienses: “Muita gente decidiu fazer teatro, depois de assistir à mostra”, conta Fernando.
E, em 2020, se reveste de significado especial. Os professores pretendem usar a mostra para sensibilizar os alunos a se matricularem no próximo semestre, mesmo com o impedimento das aulas presenciais. A Faculdade Dulcina precisa da mensalidade dos alunos para funcionar. Além disso, a instituição lançou uma campanha para pedir a solidariedade dos brasilienses.
Muita gente sai da Faculdade Dulcina para ser professor de artes cênicas ou de artes plásticas. Ela é um núcleo de formação e de produção cultural. Em documentário, Fernanda Montenegro afirmou que as pessoas fora de Brasília não perdoam a falta de apoio para que Dulcina de Moraes instalasse a faculdade que idealizou de maneira plena.
Fernanda Montenegro tem razão apenas em parte. Faltou compreensão dos governantes, mas várias gerações de professores e de alunos sempre lutaram. Esse é um momento para os governantes reverterem a imagem negativa, ajudando a instituição. A Faculdade Dulcina de Morais é patrimônio cultural de Brasília.
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