Bares redesenham vida noturna do Sudoeste

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Estou trabalhando mais do que remador de Ben Hur, como diria Nelson Rodrigues. Mesmo assim, na quarta-feira, depois de deixar a redação, dei uma passada no Sudoeste lá pelas 21h para comprar umas frutas e levei um susto. Há muito tempo que não aparecia por lá à noite e me deparei com uma cena inesperada: os bares estavam lotados e muitas pessoas caminhavam pelas calçadas. A noite fervilhava.

Fiquei em estado de choque, pois, como se sabe, Brasília leva a fama de ser uma cidade-fantasma, em que raramente os humanos saem para a rua. Até eu, que sou um boêmio Lindoia, só bebo água mineral, fiquei com vontade de sentar-me em alguma mesa e tomar alguma coisa.

Tentei desentranhar uma explicação. Fazia um calor de rachar o barraco. Em um primeiro momento, imaginei que aquela debandada dos apartamentos rumo às mesas dos bares e aos copos de cerveja gelada era uma estratégia para escapar da canícula noturna.

No entanto, fui conversar com os colegas daqui que moram no Sudoeste para confirmar minha hipótese. “Errado, você está completamente equivocado, me disseram. Está por fora, os habitantes do bairro ocupam as noites brasilianas, praticamente, todos os dias da semana”. A vida noturna é intensa, e não apenas por razões boêmias ou etílicas. As pessoas não saem somente para beber, mas também para cultivar o esporte e a saúde.

O Parque do Sudoeste fica lotado todas as noites com aulas de dança, musculação, corrida, pilates e outras terapias. E, como o movimento é grande, aparecem por lá os chamados food trucks. Inclusive, dos nossos ex-colegas de profissão Cristine Gentil e Tajes. A dupla prepara deliciosos sanduíches de linguiça caseira, com sabores diversificados. Recomendo, mesmo porque o quiosque ambulante leva o sugestivo nome de Se essa rua fosse minha.

Gosto do Sudoeste, lembra vagamente Ipanema, guardadas as devidas proporções, com os calçadões convidativos para caminhadas, as opções fartas de serviços, as lojinhas diversificadas e a multiplicidade de restaurantes. É um bairro agradável, arborizado e, por isso, de temperatura amena a maior parte do dia.

Você não fica desamparado para caminhar em qualquer direção. Pode seguir por longas distâncias a pé sem perceber e sem se cansar.

Só falta ao bairro vida cultural mais intensa para ser uma Ipanema do cerrado. Se tivesse, talvez, quem sabe, um novo Tom Jobim ou Vinicius de Moraes brasilianos. Mas o grande problema do bairro é o engarrafamento.

É difícil sair das quadras em determinados horários, principalmente pela manhã e na hora do almoço. Com todos os problemas, ainda conseguiram aprovar a construção de mais 22 blocos de seis pavimentos, na quadra 500, que receberá 4,8 mil pessoas.

Espero que a decisão insensata seja barrada pelo Ministério Público, pois fere o meio ambiente e agrava o engarrafamento de carros. Não vamos destruir a qualidade de vida de um bairro tão agradável e que está sendo humanizado pela ocupação nas noites brasilianas.

Severino

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