Severino Francisco
Confesso que faço uma varredura em busca de notícias boas. Tento trazer novidades dos canarinhos, dos ipês, dos cambuís, dos carcarás e das curicacas. Algumas vezes, a novidade está na maneira de olhar, mas existe o peso dos fatos e o clima das narrativas mentirosas. As redes sociais provocaram uma mutação. O algoritmo é a mais poderosa arma de guerra da atualidade. Consegue realizar o sonho de todos os ditadores: o da servidão voluntária. Não é mais necessário o uso dos tanques para subjugar. Legiões se oferecem para serem escravizadas por patetas.
Na década de 1980, o fotógrafo italiano Oliviero Toscani provocou uma revolução na publicidade com as campanhas inovadoras para a empresa Benetton. Ele foi um profeta do óbvio. Uniu a moda, a propaganda, a arte e o debate social. Propôs a abertura de um tribunal de Nuremberg para julgar os crimes da publicidade. Acusava a publicidade de dilapidar verbas colossais, veicular bobagens, disseminar mensagens racistas, propagar preconceitos e estimular a alienação.
No entanto, não era apenas uma crítica negativa. Era um fotógrafo extremamente talentoso e criativo. Defendia que a publicidade era o maior museu de arte do mundo. São milhares de quilômetros de painéis, de espaços na tevê e tempo nas emissoras de rádio. Para quê? Para veicular mensagens tolas, falsas e mentirosas.
A publicidade ignorava as grandes questões da humanidade. Audaciosamente, Toscani inseriu em uma propaganda de roupas da Benetton a foto de um aidético em estado terminal, amparado pela família, numa associação à célebre escultura pietá de Micheangelo. Com imagens de crianças negras, loiras e asiáticas, questionou o racismo.
Foi censurado por usar a foto de uma criança recém-nascida ainda com o cordão umbilical e por inserir a imagem do uniforme sujo de sangue de um soltado morto na guerra. Contrargumentou que o mundo da propaganda não aceitava a vida nem a morte: “Uma foto se torna arte quando provoca uma reação, seja por curiosidade, interesse ou atenção.” Polemizou contra a assepsia e o otimismo vazio da propaganda. A publicidade é um cadáver que nos sorri, dizia.
Em um primeiro momento, as campanhas de Toscani provocaram ampla repercussão e fizeram muito sucesso. Toscani morreu no mês passado, aos 82 anos, de uma doença rara e incurável.
Para que tenhamos boas notícias, além da regulação das redes sociais, é urgente que surja um gênio humanista e progressista na era da comunicação virtual para se contrapor a Steve Banon, o arquiteto do mal, com a sua agenda da destruição. Precisávamos de imaginação e inventidade para enfrentar, corajosamente, os desafios das mudanças climáticas, das desigualdades, do racismo e do negacionismo.
O poeta piauiense-brasiliense Climério Ferreira partilha do desejo de abrir os jornais ou sintonizar os telejornais e receber uma notícia boa: “Ansiosamente espero uma notícia boa/que venha de longe/que venha do infinito depois do longe/Que venha de um país inexistente/Que venha de um continente ainda não descoberto/Que venha de qualquer canto”.
E, na sequência, Climério reitera a fome de novidades alentadoras, com a qual me identifico plenamente. “É sumamente necessária uma notícia boa/Que traga um anúncio de paz/Que fale da morte da fome/Que diga do fim das doenças/Que grite a felicidade geral/Que berre pela igualdade dos homens”.
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