A escolha de profissões cujas habilidades técnicas sejam requisitadas na indústria, no comércio e nas empresas de prestação de serviços pode representar uma proteção para os trabalhadores em períodos de retração da economia. Entre essas profissões estão a de técnico em operação e monitoração de computadores, a de técnico em programação e a de mecânico de manutenção e instalação de aparelhos de refrigeração. A conclusão é do levantamento inédito feito pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) com base nos dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged).
O trabalho foi divulgado nesta quinta-feira, 6 de agosto, durante a apresentação da equipe que representará o Brasil na WorldSkills, a olimpíada internacional de profissões técnicas. A competição reunirá 1.200 competidores de 62 países no Anhembi Parque, em São Paulo, de 12 a 15 de agosto. O Brasil participará da WorldSkills com 56 competidores.
Conforme o estudo, dez ocupações técnicas industriais apresentaram saldo positivo entre as demissões e as contratações nos últimos 12 meses, período em que aumentou o desemprego no país. Essas ocupações, que somam cerca de 220 mil empregos em todo o país e, de julho de 2014 a junho de 2015, acumulam um saldo positivo de 3.273 vagas. As ocupações são as seguintes:
Técnico em monitoramento e suporte de computadoresTécnico em desenvolvimento de sistemasMecânicos de manutenção e instalação de aparelhos de climatização e refrigeração
écnicos em produção, conservação e qualidade de alimentosTécnico do vestuárioTécnico em manutenção e reparação de equipamentos biomédicosMecânico de manutenção aeronáuticaInstalador e mantenedor de sistemas eletrônicos e de segurançaTécnicos em fotônica
Técnicos em biologia
“A qualificação pode reduzir o risco de desemprego ou, ao menos, reduzir o tempo longe do mercado de trabalho”, afirma o diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi. “Quem faz cursos de educação profissional tem mais chances de conseguir um emprego com bons salários e construir carreiras estáveis”, destaca ele. Essas ocupações têm várias características em comum. As principais são:
Transversalidade: indica a variedade de setores em que um profissional pode atuar. Quanto mais transversal for uma ocupação, maior a flexibilidade do trabalhador para transitar entre diferentes áreas, regiões e empresas.
Crescimento da remuneração acima da média: Entre as 10 ocupações, sete apresentam crescimento de remuneração superior a média das ocupações técnicas industriais entre 2006 e 2013. Isso indica que há uma procura no mercado mais intensa por algumas dessas ocupações;
Menor diferença entre salários de admissão e desligamento: Em seis dessas ocupações, a diferença entre os salários dos profissionais recém-admitidos e dos que foram desligados está abaixo da média do mercado. Este é outro indicador da procura de trabalhadores para essas ocupações. As empresas mantêm os salários iniciais elevados com o intuito de captar profissionais mais qualificados.
Além disso, o estudo do Senai mostra que o desemprego entre os trabalhadores que fizeram algum curso de formação profissional é inferior à dos que não se qualificaram. Em dezembro de 2014, a taxa de desemprego entre quem tinha formação profissional era de 3,9%, enquanto que entre os que não tinham se qualificado era de 4,5%. Em junho deste ano, era de 6,6% e 7%, respectivamente, conforme os dados da Pesquisa Mensal de Emprego e Desemprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
MATRÍCULAS E REMUNERAÇÃO – Segundo Lucchesi, nos últimos anos o Brasil fez importantes avanços na área de educação profissional. O número de matrículas em cursos técnicos de nível médio cresceu 88% nos últimos seis anos. Saiu de quase 928 mil em 2008 e chegou a pouco mais de 1,7 milhão em 2014, mostram os dados do Censo da Educação Básica, do Ministério da Educação.
Além das políticas públicas de valorização da educação profissional, o crescimento no número de matrículas é resultado das oportunidades de emprego e remuneração oferecidas pelo mercado de trabalho a quem tem curso técnico. Conforme pesquisa do Senai, 72% dos técnicos formados pela instituição em 2013 estavam trabalhando em 2014. E mais: a taxa de crescimento anual da remuneração das ocupações de nível técnico foi de 8,9% entre 2010 e 2013, superior à expansão de 8,1% registrada para as profissões de nível superior.
“A educação profissional é a base para a inserção dos jovens no mercado de trabalho e para a construção de uma carreira promissora”, afirma Lucchesi. “A qualificação dos trabalhadores é fundamental para as empresas, porque eles são capazes de utilizar e interpretar as novas tecnologias, antecipar tendências e propor produtos e processos mais eficientes e aumentar a produtividade da indústria”, completa.
BRASIL NA WORLDSKILLS – O Brasil participará da 43ª WorldSkills com 56 jovens profissionais, com menos de 22 anos de idade. Eles disputarão o título de melhor profissional do mundo em 50 ocupações da indústria e do setor de serviços, como mecatrônica, robótica manufatura integrada, manutenção de aeronaves, marcenaria, design gráfico, polimecânica, joalheria, panificação e outras. Nas provas, os competidores precisam executar tarefas do dia a dia das profissões que escolheram. Vencem aqueles que executam o trabalho dentro dos prazos e dos padrões internacionais de qualidade.
Integram a equipe brasileira 50 alunos formados pelo Senai e seis do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Essa é a maior delegação já reunida pelo país para a competição internacional. A seleção dos brasileiros para a competição mundial começa nas escolas de formação profissional. Os melhores alunos são convidados a participar da etapa estadual da Olimpíada do Conhecimento.
Os vencedores competem na etapa nacional do torneio de profissões e os mais bem colocados participam das seletivas para o mundial. Ficam com a vaga aqueles que alcançam índices internacionais de qualidade técnica ao executar as tarefas do dia a dia do trabalho em suas ocupações, o que comprova que estão entre os melhores profissionais do mundo e prontos para levar o Brasil ao pódio na WorldSkills.
Natã Barbosa, ganhador da medalha de ouro em em Webdesign, da WorldSkills de 2011 , deixou uma mensagem de otimismo aos competidores brasileiros deste ano: ““Desde que eu participei da competição, tive muitas oportunidades. Agarrem as oportunidades. Corram atrás de suas paixões.”
Brasília, 12h31min