MPF pede cancelamento de matrícula de estudante que fraudou cota na UFRJ

Compartilhe

Recurso sustenta que finalidade da reserva de cotas para candidatos negros é reparar as desvantagens produzidas pelo racismo, por isso apenas pessoas cujo fenótipo e cor de pele as tornam alvo de racismo devem ser beneficiadas

O Ministério Público Federal (MPF) recorreu de decisão da 27ª Vara Federal do Rio de Janeiro que julgou improcedente o pedido para condenar a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e uma aluna do curso de medicina por fraude na autodeclaração para o ingresso por cota a candidatos pretos, pardos ou indígenas.

Na ação civil pública, o MPF pede que a UFRJ anule a matrícula da estudante e que a aluna seja condenada a reparar danos materiais à universidade no valor médio aproximado de faculdades de medicina em instituições particulares, além da reparação dos danos morais e coletivos à sociedade brasileira e danos morais individuais à UFRJ. No entanto, o juízo da 27a Vara Federal considerou improcedente o pedido por considerar que não é possível afirmar que a autodeclaração efetuada pela estudante foi falsa de modo a ensejar a desconstituição da matrícula.

O MPF questiona a tese de que não cabe penalizar a candidata pelo mecanismo falho da UFRJ. Quando a matrícula da aluna foi efetuada, no primeiro semestre de 2018, a universidade ainda não havia criado sua comissão de heteroidentificação e não dispunha de mecanismos de aferição da veracidade da autodeclaração. No entanto, o próprio edital para ingresso previa o cancelamento da matrícula caso fosse constatada fraude. “Ou seja: o edital de abertura do certame foi inequívoco quanto à possibilidade de cancelamento da matrícula do candidato em caso de falsidade da autodeclaração, o que pressupõe, por obviedade, que à universidade são resguardados meios próprios para aferir a veracidade das declarações em qualquer fase do certame, inclusive após a admissão do candidato no curso de graduação”, argumenta o procurador da República Renato Machado.

O recurso lembra que a finalidade da reserva de cotas para candidatos negros é reparar as desvantagens produzidas pelo racismo, por isso apenas pessoas cujo fenótipo e cor de pele as tornam alvo de racismo devem ser beneficiadas. A peça também sustenta que a autodeclaração não deve ser revestida de caráter absoluto. “A adoção de algum grau de sindicabilidade da veracidade das autodeclarações impede que intenção do legislador seja completamente subvertida . Ou seja, somente a sindicabilidade da autodeclaração é capaz de desestimular que pessoas brancas se autodeclarem negras ou pardas para acessar o ensino público superior, aumentando a já imensa diferença racial educacional”, afirma o procurador.

Para o MPF, a sentença ainda é nula porque não houve citação da ré, que não foi localizada nos endereços fornecidos à UFRJ ou ao sistema bancário. Com isso, o depoimento pessoal da estudante para verificar as características fenotípicas foi inviabilizado, uma das provas requeridas pelo MPF para instrução do processo.

Outras ações

O MPF move ao menos outras cinco ações contra candidatos por fraude em cotas. Em duas delas houve apelação neste mesmo sentido. As outras três estão em diferentes estágios de andamento processual. No total, são quatro ações por casos identificados na UFRJ e duas na Unirio.

Vera Batista

Publica por
Vera Batista
Tags: cancelamento candidatos condenada cota danos desvantagens estudante fenótipo fraude indígenas materiais matrícula MPF negros pardos racismo Rio de Janeiro UFRJ Universidade

Posts recentes

  • Governo federal
  • Servidores públicos

Gestão faz recomendação de segurança aos servidores após invasão ao sistema do governo

O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) divulgou, nesta segunda-feira (22/4),…

5 dias atrás
  • Curso
  • Educação
  • Governo federal
  • Servidores públicos

Inmetro lança programa de capacitação com cursos para servidores e colaboradores

O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) lançou o Programa Nacional de Capacitação…

1 semana atrás
  • Governo federal
  • reajuste salarial
  • Serviço público
  • Servidores públicos

Câmara debate greve de servidores de universidades federais nesta terça (16)

A greve dos servidores técnico-administrativos de universidades e institutos federais será tema de debate pela…

2 semanas atrás
  • Governo federal
  • reajuste salarial
  • Serviço público
  • Servidores públicos

Servidores preparam semana de mobilização para pedir reajuste

Os servidores públicos federais farão uma manifestação entre esta terça e quinta-feira (16 a 18/4)…

2 semanas atrás
  • Servidor
  • Servidores públicos

Comissão no Senado debate negociação coletiva para servidores públicos

Pauta da ampliação da negociação coletiva ao funcionalismo público é defendida por sindicatos de trabalhadores…

3 semanas atrás
  • Inteligência Artificial
  • juízes

TSE deve treinar juízes no enfrentamento à desinformação nas eleições

Capacitação será focada no combate a conteúdos enganosos que usam inteligência artificial. Treinamento deve ocorrer…

3 semanas atrás