The stripper mostra a dura vida de uma jovem que tem se torna dançarina numa boate para sustentar a família
Se fosse uma criança, a produção de websérie no Brasil estaria na fase de dar os primeiros passos sozinha. Por isso, a cada uma que estreia é uma vitória. Quando vem o reconhecimento, então, é melhor ainda. É o que acontece com The stripper, dirigida por Nádia Bambirra. A produção, financiada por meio de vaquinhas virtuais, foi a melhor websérie do Fest Cine Pedra Azul e ainda concorreu a melhor websérie de língua estrangeira, no New York City Webfest (NYC Webfest) e aos prêmios de melhor produção e melhor atriz de drama no Rio Webfest 2020.
“Acho que websérie não está sendo vista como um produto rentável ainda e isso está começando a mudar agora na pandemia em que grandes nomes estão começando a produzir mais desse formato. Depois da pandemia, a realidade vai mudar”, aposta o ator e produtor Rodrigo Tardelli.
The stripper traz a história de uma mulher que precisa entrar no mundo da dança sensual para se sustentar e ajudar financeiramente em casa. No meio do caminho, ela se apaixona pela secretária da empresa onde ela trabalha. Tudo isso é levado à tela de maneira natural, sem pré-julgamentos.
“Quisemos tratar qualquer tipo de realidade da forma mais natural possível, sem deixar como algo muito absurdo ou clichê, ou ainda algo que as pessoas nunca veriam na realidade. The stripper traz à tona alguém que, no desespero, tem que se desdobrar entre duas realidades totalmente diferentes. Muitas vezes temos que aprender a fazer coisas que jamais imaginávamos para poder sobreviver”, define Rodrigo, que vive um amigo e confidente da protagonista.
A série aborda o lesbianismo, assunto que ainda é visto como tabu na sociedade brasileira (outra série sobre o tema estreou recentemente, Seus olhos) . Por isso, Rodrigo sabe que seria difícil que a produção emplacasse na TV aberta. “Em uma TV fechada ou em uma plataforma de streaming, sim. Temos visto cada vez mais conteúdo LGBTQIA+ nessas plataformas e o público está cada vez mais aberto a entender e olhar para isso, abrir a mente”, comenta. O mesmo otimismo que faz Rodrigo acreditar que o cenário para as webséries será favorável em breve o acompanha com relação à saída de produtos com temáticas gay do nicho onde estão até hoje. “As coisas estão melhorando nesse sentido, ainda não 100%, mas estamos caminhando”, vislumbra.
Entrevista// Rodrigo Tardelli
A série The stripper tem como um dos principais cenários uma boate onde a protagonista faz shows eróticos. Como tratar desse assunto sem cair na caricatura ou no explícito?
Nós da Ponto Ação, desde o começo, quisemos tratar qualquer tipo de realidade da forma mais natural possível. Então, The stripper é uma história bem ficcional, a mais ficcional de todas que já fizemos. Ainda assim, quisemos trazer a história de uma forma natural, sem deixar como algo muito absurdo ou clichê, ou ainda algo que as pessoas nunca veriam na realidade. Muitas pessoas trabalham em diversos lugares em algumas vezes para poder passar por uma crise, juntando salários de vários trabalhos para conseguir pagar as contas, The stripper traz à tona alguém que, no desespero, tem que se desdobrar entre duas realidades totalmente diferentes para passar por um mau momento e por não ter o apoio da sua família. Muitas vezes temos que aprender a fazer coisas que jamais imaginávamos para poder sobreviver e isso não tem nada de caricato ou explícito se pensarmos mais a fundo.
A protagonista vive uma paixão pela secretária da empresa onde trabalha. Tocar num tema como o lesbianismo ainda é um tabu? Acha que a série encontraria espaço fora da internet?
Não em uma TV aberta, mas em uma TV fechada ou em uma plataforma de streaming, sim, conseguiria. Temos visto cada vez mais conteúdo LGBTQIA+ nessas plataformas e o público está cada vez mais aberto a entender e olhar para isso, abrir a mente. As coisas estão melhorando nesse sentido, ainda não 100%, mas estamos caminhando. Acredito que até em uma TV aberta, talvez de uma forma mais maquiada, porque para TV aberta, o assunto ainda é um tabu sim.
A internet está repleta de haters de todo tipo. Receberam muitos comentários ofensivos no canal? Estavam preparados para isso?
Nós achávamos que iríamos receber, até porque começamos The stripper em uma era de ascensão do governo atual. Achamos que seríamos atacados, porém o público que chega até o canal é um público com a mente bem aberta. Recebemos, talvez, 10 comentários negativos em relação à temática LGBTQIA+ da série, mas nada absurdo.
O combate a esses ataques virtuais, cada vez mais frequentes, está mais efetivo no Brasil?
Os ataques virtuais estão em todos os lugares, todos os países, todos os momentos. Estamos na internet, usando a nossa voz e isso nos torna propícios a receber comentários negativos e preconceituosos na internet e precisamos saber lidar com isso. Precisamos saber como agir com comentários bons, comentários ruins, críticas construtivas, etc. Independente do que vão falar, o que importa é fazermos nosso trabalho bem feito e estarmos satisfeitos com a mensagem que estamos passando.
A websérie foi financiada por fãs na internet. Como conseguir engajamento para um projeto que ainda está no papel?
Foi um pouco difícil. Ficamos cerca de um ano captando verba, até porque é complicado levantar valores para um projeto que ninguém viu ainda. Hoje seria mais fácil com a galera já sabendo do que se trata. Mas conseguimos! O processo de captação sempre é mais complexo, criamos várias estratégias diferentes. The stripper teve um orçamento ainda maior para produção, o que também dificultou. Mas a galera também estava ali com a gente, os fãs confiam muito no nosso trabalho também, o que nos ajuda bastante.
A produção de webséries está cada vez mais frequente e profissional. Não falta os investidores e patrocinadores enxergarem esse novo meio de produção audiovisual?
Acho que websérie não está sendo vista como um produto rentável ainda e isso está começando a mudar agora na pandemia em que grandes nomes estão começando a produzir mais desse formato. Depois da pandemia, a realidade vai mudar. A forma “simples” de trabalhar será algo mais frequente e ganharemos mais espaço e visibilidade. Os produtos são, sim, rentáveis, traz público e dão retorno de alguma forma. A realidade vai mudar para um futuro bem próximo.