Atuar em novelas é como andar de bicicleta ー a gente não esquece. Assim é para Ingra Lyberato. Depois de um hiato de 17 anos, a atriz está de volta aos folhetins, como a Fátima, personagem que entrou no meio de Segundo sol para sacudir a trama da família Athayde.
“Entrar no meio de uma novela e de uma novela que está fazendo sucesso é um desafio enorme e muito estimulante. Exige muita sensibilidade de todo aquele núcleo e muita vontade de que dê certo”, afirma Ingra, em entrevista ao Próximo Capítulo.
Ingra conta que não foi parar em Segundo sol à toa ー pelo contrário, ela se ofereceu para fazer um teste para a trama de João Emanuel Carneiro. “Eu me ofereci mesmo. A novela se passa na Bahia e eu sou baiana. Então, procurei a produção de elenco e me ofereci para um teste. Não tenho problema nenhum com testes porque eles não medem minha capacitação e sim a adequação àquele personagem”, reflete.
Fátima ainda é um desafio maior para Ingra por ser uma vilã, mas ter um lado humano ao mesmo tempo. Ela, o marido, Juarez (Tuca Andrada), e o filho mais velho, Narciso (Osmar Silveira), são traficantes de droga. Mas Ingra consegue defender algumas atitudes da personagem.
“A Fátima é uma personagem que traz uma reflexão muito grande. Ela é complexa porque tem o lado do tráfico, que é um problema social. Mas esse é apenas um detalhe na personagem. O mais importante nela é o amor que ela sente pelos filhos. Ao mesmo tempo que ela sai para traficar com o marido, ela não deixa a filha voltar para casa depois das 22h. Isso é muito rico porque todos nós somos contraditórios na vida”, defende Ingra.
Como boa baiana, ela não se furta a lançar mão de crenças para atrair bons fluidos: há dois anos, recorreu à numerologia e agora assina Lyberato, com “y”. Deu certo. Fátima é um sucesso e deve reabrir as portas para Ingra nas novelas.
Porque você ficou tanto tempo afastada das novelas?
Escrevi um livro que explica muito bem isso. Chama-se Medo do sucesso. Eu era muito nova quando estourei e estava muito em evidência. Não soube como lidar com isso. Eu tinha medo de me expor, da avaliação das pessoas e, por isso, me afastei. Mais tarde entendi que, no fundo, era arrogância minha por não admitir que, sim, a gente pode falhar. Aprendi que não podemos nos levar tão a sério.
O sucesso de Ana Raio e Zé Trovão te assustou, então?
Muito! Ninguém esperava que íamos estourar tão rápido. Eu nunca busquei fama, sucesso. Eu queria ser apenas atriz. Aprendi que a gente precisa ressignificar a palavra sucesso. Não precisa ter a ver com larga escala. Eu posso ser bem-sucedida sem precisar me expor, só fazendo meu trabalho se eu quiser.
Olhando para a sua boa forma, aos 51 anos, nem percebemos tanta diferença. Como você mantém a forma?
Eu acho que é a genética baiana (risos). Eu tenho muita energia e sempre me mexo muito, mesmo sem estar na academia. Gosto de estar em contato com a natureza, com cachoeiras, trilhas. Gosto de celebrar a vida. Eu como saudável, não bebo, não fumo e procuro não fazer nada que agrida meu corpo. Eu não esperava chegar tão bem a essa idade. Mas eu descobri um gosto pela vida, um gosto até pelos meus defeitos. Tem um cabelo branco, um pé de galinha. Mas há beleza nisso!
Ser baiana te ajudou com o sotaque em Segundo sol?
Eu moro fora da Bahia há muito tempo. Mas meu sotaque está bem soltinho na novela. Eu me lembrei da minha estreia, em Tieta, quando falaram para eu ser natural. Mas depois tive que ir podando meu sotaque porque é legal o ator não ter um registro que o limite. Mas está muito massa ser baiana novamente, algumas expressões estão até voltando porque eu já tinha esquecido (risos).
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