O ator Vandré Silveira se emociona com a reprise de Jesus, comemora o sucesso da novela bíblica na Argentina e flerta com a modernidade fazendo três lives por semana. Leia a entrevista!
O passado e o presente do ator Vandré Silveira estão lado a lado nessa pandemia. O ator viveu Lázaro na novela Jesus (2018), que está sendo reprisada pela Record, e aparece de cara limpa, como ele mesmo, em lives que comanda três vezes por semana nas redes sociais.
Em entrevista ao Próximo Capítulo, Vandré lembrou dos tempos de Jesus. “Foi um trabalho feito com muita entrega e dedicação. Acredito num trabalho total de imersão no universo do personagem. Li muitos textos, vi filmes, além de ter lido o ótimo romance O evangelho segundo Lázaro, de Richard Zimler. Foi um trabalho que me trouxe grande reconhecimento profissional e muitas alegrias pessoais”, conta.
Em tempos de pandemia, a novela ainda pode trazer uma reflexão: “A grande mensagem da novela é a fé. Não importa o tamanho do problema que esteja passando, seja alguma doença física ou depressão, algum vício — sempre há a possibilidade de escolhermos caminhos melhores.”
Fora da ficção, Vandré (que depois de Jesus viveu o advogado Tibério em A dona do pedaço) está dando a cara a tapa três vezes por semana em lives temáticas que comanda nas redes sociais. “Comecei com a Live de Quinta, na qual converso com personalidades de áreas diversas. Depois veio a Sexta Sexy, que busca informar e refletir sobre sexualidade, amor e relacionamentos. Nas quartas, faço com meu amigo e ator Rodolfo Mesquita, Os embalos imberbes de quarta à noite, um papo descontraído sobre cultura e atualidades”, explica.
Sem medo, Vandré encarou o desafio de falar sobre sexo na internet. “É um tabu total. Vivemos uma sociedade machista, homofóbica, racista e sexista. Estamos presos a um modelo de monogamia absoluta, muito calcada num ideal romântico. Tenho aprendido nas lives o quanto é importante respeitarmos as escolhas de cada um”, afirma.
Na entrevista a seguir, Vandré Silveira fala sobre o que vem por aí (a série Amor dos outros), o que ele tem feito na pandemia e muito mais. Confira!
Entrevista // Vandré Silveira
Você está no ar na reprise de Jesus como Lázaro. Que recordações traz desse trabalho?
As melhores. Foi um trabalho feito com muita entrega e dedicação. Acredito num trabalho total de imersão no universo do personagem. Li muitos textos, vi filmes, além de ter lido o ótimo romance O evangelho segundo Lázaro, de Richard Zimler. Foi um trabalho que me trouxe grande reconhecimento profissional e muitas alegrias pessoais. Fiz muitos amigos na novela. As irmãs de Lázaro, Marta e Maria, feitas pelas atrizes Dani Moreno e Jessika Alves, se tornaram grandes amigas. Assim, como Bárbara Reis (Susana) e Luka Ribeiro (Shabaka).
Você gosta de se rever quando seus trabalhos são reprisados?
Amo rever. É uma oportunidade que o distanciamento traz de reavaliar o trabalho. E estou adorando acompanhar novamente o cotidiano de Lázaro, a relação com as irmãs, a lida no campo e o amor por Susana. Foi realmente um romance que incendiou o público e as redes sociais.
Dá pra notar alguma diferença do Vandré de hoje para o da época da novela Jesus?
Alguns cabelos brancos (risos). Brincadeiras à parte, noto em mim uma maior resiliência para lidar com as dificuldades. Entendê-las como desafios para meu próprio crescimento. Tenho pensado de forma mais universal. A necessidade de mudarmos nossa relação com a natureza e os animais. Esse modelo de consumo e produção está esgotando a vida. Tenho buscado o caminho do vegetarianismo e compartilhado esta ideia com meu público. Não é um processo fácil, mas possível e necessário.
Jesus vem sendo exibida com sucesso na Argentina. Qual é o segredo de trama, além da história universal?
Estou muito feliz com o sucesso da novela em todo o mundo, especialmente na Argentina. Já estou fazendo aula de espanhol, inclusive. Pretendo visitar a Argentina em breve. Acho que a grande mensagem da novela é a fé. Não importa o tamanho do problema que esteja passando, seja alguma doença física ou depressão, algum vício — sempre há a possibilidade de escolhermos caminhos melhores. E é na fé que nos apoiamos para transformarmos o que necessita de mudança em nossa vidas. Sempre em prol do bem, do amor.
Logo depois de Jesus você fez A dona do pedaço, novela contemporânea. Quais são as maiores diferenças entre um trabalho de época e um que se passa nos dias hoje? Caracterizar-se como Lázaro ajudava a compor o personagem?
Uma novela de época traz uma prosódia diferenciada da contemporaneidade. Um bom figurino sempre ajuda na composição dos personagens. Para mim, era fundamental me vestir como Lázaro para trazer sua persona porque você precisa lidar com uma nova maneira de andar, de gesticular, de se expressar. E isso faz parte da composição do personagem. Acredito que o trabalho do ator é um só: trazer a verdade do personagem. Penso a atuação como uma auto exposição para que o espectador seja tocado e atravessado. Se estou fingindo, nada acontece. Mas se algo me atravessa, me deixa exposto em cena, emocionalmente, o espectador reconhece. Então nesse sentido, independe o trabalho ser de época ou contemporâneo.
Seu próximo trabalho na TV será a série Amor dos outros. O que pode adiantar do projeto?
É uma comédia dramática realizada no Maranhão. Tive grande felicidade de fazer o protagonista Eurípedes, o caminhoneiro bronco que é completamente apaixonado pela esposa Sandra (Júlia Horta). Ela sonha com a casa própria e o marido volta às estradas para realizar o sonho da companheira. Ela começa a trabalhar como camareira de um motel, escondida de Eurípedes. Muitas situações engraçadas acontecem por conta das pequenas mentiras que as pessoas contam e que acabam por deflagrar conflitos maiores. Deve estrear no canal CineBrasilTV e na plataforma Now. Uma das maiores alegrias que senti na série foi ter aprendido a dirigir caminhão. Meu avô materno foi caminhoneiro. Então, me senti honrando minha ancestralidade.
Você tem feito lives três vezes por semana durante a pandemia. É uma forma de não deixar o artista Vandré adormecido?
Começou como uma brincadeira. E fui me empolgando. Comecei com a “Live de Quinta” na qual converso com personalidades de áreas diversas, como os atores Pedroca Monteiro, André Ramiro, Karla Muga; a jornalista e idealizadora do Festival Estar Bem, Silvana Espírito Santo, além da advogada Luíza Valeri, consteladora sistêmica; o fotógrafo Sergio Santoian, entre outros. Depois veio a “Sexta Sexy”, que homenageia um extinto programa homônimo de TV da Band e que busca informar e refletir sobre sexualidade, amor e relacionamentos. Já fiz com algumas sexólogas, como a Érika Penha, a Dra. Paula Milena, a psicóloga Andrea Lucena e a mais recente e de maior sucesso, com a psicanalista Regina Navarro Lins. Nas quartas, faço com meu amigo e ator Rodolfo Mesquita, “Os embalos imberbes de quarta à noite”, um papo descontraído sobre cultura e atualidades. Com certeza, as lives tem me possibilitado exercitar um lugar de criação, aprendizado e também diversão.
O cidadão Vandré também tem espaço nessas lives? Tem como separar os dois?
Claro que sim. Nas lives não faço um personagem. Sou eu pessoa física (risos), debatendo questões importantes e atuais. Aliás, muitos fãs gostaram de me conhecer para além dos personagens. Nos “Embalos imberbes de quarta à noite” e na “Sexta Sexy” sempre estou em companhia de uma boa taça de vinho, o que acaba esquentando o papo (risos). E uma das coisas mais lindas que tem acontecido é o fato de as pessoas se identificarem com a humanidade que apresento. Isso me inunda de afeto. Há uma cultura de celebridade que coloca o artista num pedestal que não é real.
Às sextas-feiras sua live é dedicada a falar sobre sexo. O assunto ainda é um tabu na nossa sociedade?
É um tabu total. Vivemos uma sociedade machista, homofóbica, racista e sexista. Estamos presos a um modelo de monogamia absoluta, muito calcada num ideal romântico. Tenho aprendido nas lives o quanto é importante respeitarmos as escolhas de cada um. Cada casal que tenha seu próprio acordo. Não há uma fórmula. E, sim, o respeito total e irrestrito à diversidade e a pluralidade de corpos, relações e sexualidades.
Além das lives, o que você tem feito para não pirar na quarentena?
Tem dias que são mais complicados. Nós, trabalhadores da cultura, estamos passando por um momento de muita dificuldade. E agora, está bastante evidente a necessidade da cultura e da arte para o desenvolvimento humano, social e econômico da nossa sociedade. Tenho visto filmes, séries. E também tenho me exercitado em casa, além de praticar Ashtanga Yoga. Às vezes, um belo Pinot Noir para suavizar dias mais difíceis.