The Boy Who Harnessed the Wind História de O menino que descobriu o vento é tocante Cena do filme O menino que descobriu o vento

Vale a pena se emocionar com O menino que descobriu o vento, da Netflix!

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Filme baseado em fatos reais, O menino que descobriu o vento emociona ao mostrar a força de várias formas. Leia a crítica!

Força. Não há palavra melhor para definir O menino que descobriu o vento (The boy who harnessed the wind, no título original), filme produzido pela Netflix e premiado no Festival de Sundance deste ano. Assim como Roma, O menino que descobriu o vento tem cheiro de prêmios internacionais (quem sabe um Oscar?) pela história envolvente.

A força de tudo que vemos na tela só aumenta quando nos lembramos (ou ficamos sabendo) que a história trazida em O menino que descobriu o vento é real. Ela chega à tela depois que William Kamkwamba conta a própria vida no livro que serviu como base para o roteiro de Chiwetel Ejiofor, também diretor e ator do longa.

Na tela, conhecemos o menino William (Maxwell Simba). Aos 13 anos e com a força interior de vários adultos juntos, o menino é o depósito de todas as esperanças do pai, Trywell (Chiwetel Ejiofor), que investe todo dinheiro que ganha na lavoura na educação do caçula.

Nós também temos contato com outra força: a da natureza logo no começo de O menino que inventou o vento. No Malauí de 2001, o homem destrói a vegetação local em busca de progresso.

A resposta vem como um golpe de esquerda na boca do estômago de todos, inclusive de quem está assistindo ao filme: a chuva intensa seguida de uma seca ferrenha inviabiliza a produção rural e compromete a renda e, por tabela, a felicidade da família de William e de tantas outras que não sabem se sustentar de outra forma. “A terra inunda porque eles estão derrubando as árvores”, ensina o texto.

O amor também é uma força em O menino que inventou o vento

Cena do filme O menino que descobriu o vento
O menino que descobriu o vento é baseado na vida real de um menino do Malaui

A força do amor, quem muitas vezes parece encher a barriga daquelas pessoas, é a única coisa que brota na família. O roteirista se vale dessa emoção para frases fortes, como “filho meu não vai passar fome. Eu dou um braço meu, mas não vai”, dita pela mãe de Willam, Agnes (interpretação tocante de Aïssa Maïga), e para retirar de seu elenco expressões emocionantes e fortes. Como é expressivo o rosto de Simba!

Comida vira artigo de luxo, sendo alvo de saques entre os próprios agricultores, outrora aliados. A irmã de William, Anne, vai para a capital com o namorado, mesmo a contragosto dos pais – “uma a menos para alimentar”, diz um resignado Trywell. Com um quê de Vidas secas, a saga dos Kamkwamba tem uma dura conexão com a realidade do nordeste brasileiro.

Mas estamos falando de força. E isso William tem de sobra. O menino, único entre os que sobraram na região a ir a escola, tem dificuldade em convencer o pai e os outros adultos que é possível gerar energia eólica “como eles fazem na América”.

William está fora da escola por falta de dinheiro e tem que contar com a ajuda de um ex-professor para liberar acesso ao livro (a força da educação é descomunal no futuro de William) e mostrar aos outros que ele pode construir a engenhoca necessária para realizar tal feito. Experiência com “construções” o jovem tem: William aparece em várias cenas consertando rádios e motores como quem quisesse consertar a própria vida. A arma para isso: o conhecimento. É lindo, em tempos em que universidades brasileiras passam por cortes do governo federal, ver a força da educação. Ela é transformadora e, talvez, por isso, amedronte tanto.

Como história, O menino que descobriu o vento é tocante, emocionante, inspirador. Como filme, o maior pecado talvez seja se ater demais à estrutura literária, especialmente na divisão clara dos capítulos e no recurso da narração utilizado no início do longa. Nada que comprometa a produção. Estoure a pipoca, separe o lenço (vai por mim: você vai precisar!) e se entregue a O menino que descobriu o vento.