HBO THE UNDOING - Lily Rabe 4 Crédito: HBO/Divulgação. Lily Rabe em The undoing

‘Trata-se da natureza desconhecida dos seres humanos’, define Lily Rabe sobre The undoing

Publicado em Minissérie

A atriz Lily Rabe vive Suylvia Steinetz na minissérie da HBO, que exibe neste domingo (22/11), o quinto e penúltimo episódio

Em The undoing nada é como parece. A minissérie da HBO de David E. Kelley (Big little lies) faz com que espectador a todo momento duvide das atitudes dos personagens principais, que estão, de alguma forma, envolvidos com um assassinato que acontece no primeiro episódio. A investigação do crime perpassa toda a temporada, composta por seis episódios.

O principal suspeito é o médico Jonathan, vivido por Hugh Grant. Apesar de parecer ter uma motivação, ele não é o único personagem que poderia ter razão. As atitudes dúbias de outros personagens os tornam tão suspeitos quanto, ou, no mínimo cúmplices, como Grace (Nicole Kidman), esposa de Jonathan; Franklin (Donald Sutherland), sogro de Jonathan; Fernando Alves (Ismae Cruz Cordova), marido da vítima; e até Sylvia Steinetz (Lily Rabe), amiga de Jonathan e Grace, que revelou saber mais do que se imaginava sobre o caso.

Para a atriz Lily Rabe, essa dificuldade de conhecer profundamente uma pessoa é o tema principal de The undoing. “Trata-se da natureza desconhecida dos seres humanos e de como, mesmo nas nossas relações mais íntimas, porque os seres humanos estão mudando constantemente, sempre existe algo mais para descobrir. Uma relação nunca é completa até acabar. E eu acho que é uma exploração muito fascinante disso nas duas caras da moeda”, explica em entrevista cedida pela HBO ao Próximo Capítulo.

Confira abaixo tudo que a atriz falou sobre a trama!

Entrevista // Lily Rabe

Quantos episódios de The undoing você teve a oportunidade de ler antes começar a filmar?
Acho que recebi os dois primeiros episódios, e depois, um pouco mais tarde, enviaram o terceiro, o quarto e o quinto. O sexto veio depois. Portanto, inicialmente, li os episódios um e dois de uma vez só, porque quando você começa não consegue parar de ler (risos).

A Susanne Bier (diretora da minissérie) descreveu a história como jogar uma bomba no meio desse mundo de tantos privilégios. Você concorda?
Sim. Em grande parte, esse mundo funciona assim porque parece seguro e distante para quem está nele. Existe uma sensação de falta de acesso, então, quando o assassinato ocorre, relacionamentos são destruídos, e esse sentimento natural de sentir intocável, rende uma boa história.

E claro que, quando você leu pela primeira vez, não sabia o final. Você se pegou mudando de opinião sobre se o Jonathan (Hugh Grant) é o assassino?
Na primeira vez que li esses dois episódios iniciais, não tinha a menor ideia de quem tinha matado a Elena (Matilda De Angelis). Depois, estava muito entusiasmada, tinha os outros episódios e os estava lendo pelos olhos da Sylvia. Então, aí sim, foi um pouco diferente. Mas de fato tive momentos de me questionar quem tinha matado, porque isso é o que o David Kelley faz tão bem. Você nunca consegue se adiantar aos personagens porque eles são insondáveis de muitas maneiras, e também muito multidimensionais e dinâmicos. Acho que devido ao trabalho da Sylvia, que é advogada, ela o vê da mesma maneira que uma advogada veria. Há uma cena na entrada da escola na qual ela está falando com as amigas e diz “sempre é o maldito marido”. Mas na verdade acho que a suspeita dela sobre o Jonathan está rondando por ali de uma maneira que ela não consegue admitir, pelo menos no início. Depois, com o passar do tempo, se torna cada vez mais claro. Nesse sentido de quando você tem a verdade que quer vir à tona, mas está lá embaixo, e você faz o maior esforço para que ela não venha à tona, mas inevitavelmente virá. Então eu acho que, tendo ou não consciência disso, a Sylvia sabe, mesmo que não queira.

Crédito: HBO/Divulgação

A Susanne também disse que cada personagem importante guarda seus segredos. A sua personagem, a Sylvia, tem um conflito porque ela escondeu um segredo da Grace (Nicole Kidman)? Ela prestou serviços jurídicos ao Jonathan quando ele foi reprendido no hospital e escondeu isso da amiga. Você acredita que é por isso que ela desconfia mais do Jonathan?
Acho que é interessante porque há algo que acontece com todos os personagens da história: os acontecimentos os transformam à medida que eles enfrentam o que está acontecendo. E isso é compreensível quando você descobre coisas sobre as pessoas que sentimos que conhecemos, e depois tudo fica duvidoso. Não só temos que reavaliar os nossos relacionamentos, mas também devemos reavaliar as nossas próprias habilidades sobre como nos movimentamos neste mundo, sobre como conhecemos as pessoas e se confiamos nelas. “Realmente podemos confiar em nós mesmos para fazer isso adequadamente?”. A Sylvia é mãe, é uma mãe maravilhosa, que vive para a filha, e é primeiro mãe, mas também é advogada em um segundo lugar muito próximo. Ela é muito boa na profissão, é uma parte importantíssima da sua identidade, e acho que não havia um conflito tão grande quando o Jonathan foi procurá-la. Não acho que ela estivesse pensando na Grace, estava pensando em fazer o trabalho dela. Só depois, quando ocorre esse acontecimento devastador, o assassinato, quando o mundo inteiro fica embaixo d’água, é nesse momento que ela se dá conta de que talvez tenha cometido um erro de avaliação e que talvez pudesse ter feito as coisas de outra maneira. Mas ela precisa fazer uma escolha: manter o relacionamento com a Grace, que tem barreiras, ou simplesmente mergulhar na honestidade dolorosa de contar o que aconteceu sem esperar que a relação se recupere. E isso é o bonito de ser honesto com as pessoas que amamos. A única maneira de fazer isso é não ter expectativas de que a relação sobreviverá, e é bonito quando sobrevive.

Você nasceu em Nova York. Ficou surpresa de alguma maneira com a forma como Susanne filmou a cidade?
Fiquei, porque acho que ela é uma diretora muito surpreendente. A maneira como ela vê o mundo é muito singular. Mas acho que a experiência que você tem em The undoing ao ver Nova York – seja como uma cidade do seu coração e é seu lar, seja como uma cidade que nunca visitou – é autêntica e fiel aos detalhes. A sensibilidade dela é tão poderosa que você tem a percepção do lugar que ela mostra muito detalhadamente, e com muita multidimensionalidade, é renovador. Você tem uma nova experiência do lugar e do Upper East Side, que é como um mundo dentro de um mundo em Nova York. E isso é o que é tão bonito na cidade. A Susanne é simplesmente uma narradora da verdade, ela tem isso no sangue. Há diversos mitos sobre o Upper East Side, mas com a Susanne nós o vemos como realmente é, porque é assim que ela conta histórias.

Novamente como nativa de Nova York, o texto do David Kelley tem a mesma autenticidade para você?
Sim. O David escreve diálogos vivos e extraordinários, ele é um arquiteto do roteiro e do suspense tão sensacional que nunca podemos prever a trama nem os personagens. Ele dá a mesma relevância aos personagens e ao roteiro, e nenhum dos personagens parece algo secundário ou de último momento, porque ele os descreve muito detalhadamente. E também é extremamente cuidadoso com a linguagem. Eu acho que o David e a Susanne formaram uma dupla perfeita e, por isso, eu quis fazer este trabalho. O texto dele nas mãos da Susanne eram o par perfeito.

Você encontrou o David no set e conversou com ele sobre a sua personagem e a história?
Sim, ele esteve algumas vezes no set. E eu já tinha me encontrado antes com o David. O meu namorado trabalhou com ele, a minha mãe também, e eu trabalhei com a mulher dele. Então nos conhecíamos. Antes quase trabalhamos juntos, mas por causa das agendas não aconteceu. Mas o David esteve lá enquanto filmávamos. Ele é uma pessoa encantadora.

Como foi trabalhar com a Nicole Kidman? Como você construiu essa relação amistosa tão próxima que vemos na tela?
Ela é um sonho! É uma pessoa primorosa. A Nicole é uma atriz incrível e sua humanidade transcende todos os seus trabalhos. Ela é muito curiosa e trabalha o tempo todo. É a pessoa menos preguiçosa que já vi em toda a minha vida (risos). Está em um estado de exploração constante e sempre muito presente, é muito generosa. Adorei trabalhar com ela. E em grande parte foi por quem ela é como mulher. Traz tudo com ela, está sempre ali, presente. E aconteceu de eu ter uma conexão imediata com a Nicole. Senti um espírito acolhedor nela, e na Susanne também. E é surpreendente quando isso ocorre porque geralmente pode demorar um tempo considerável, mas com estas duas mulheres foi um sentimento instantâneo de ser vista e de ver, e esse tipo de sentimento é insubstituível e inestimável.

Parece que você realmente gostou de trabalhar neste projeto…
Eu adorei participar. E estávamos em Nova York, então não se pode pedir mais (risos).

Se você tivesse que explicar do que se trata The undoing para alguém que ainda não viu, o que você diria?
Trata-se da natureza desconhecida dos seres humanos e de como, mesmo nas nossas relações mais íntimas, porque os seres humanos estão mudando constantemente, sempre existe algo mais para descobrir. Uma relação nunca é completa até acabar. E eu acho que é uma exploração muito fascinante disso nas duas caras da moeda: as relações podem ser decepcionantes, mas também podem ser surpreendentes positiva e maravilhosamente, e eu acho que as duas coisas acontecem ao longo da série. Mas também se trata do espelho que temos na nossa frente quando uma relação é questionada, quando a nossa percepção de outra pessoa é questionada, como precisamos ver a nós mesmos e a nossa capacidade de conhecer os outros. Então, para mim, quanto aos temas, isso foi o que me veio à cabeça com mais força.

Então é sobre como todos nós somos essencialmente desconhecidos?
É duro conhecer as pessoas (risos). Se você tenta seguir a corrente, eu acho que nunca dá muito certo (risos).

Vamos falar das suas cenas com o Hugh. Por que ele é o ator certo para interpretar o Jonathan?
Estive com o Hugh várias vezes no processo e ele é simplesmente divino. Realmente é. Ele é um ator tão brilhante que eu não consigo imaginar outra pessoa interpretando esse papel, porque o que ele é capaz de fazer, como Jonathan, é que as pessoas à sua volta sintam que podem chegar até ele facilmente, que ele é muito encantador e disposto, de certa forma. Mas na verdade existe um sentimento dessa simultaneidade, há muita coisa oculta. E isso tem a ver com uma grande atuação. Sim, eu acho que o Hugh Grant pode fazer qualquer coisa e é a escolha perfeita para esse personagem.

*Entrevista cedida pela HBO Brasil ao Próximo Capítulo